Meu centroavante quer casar!
Manhã calma
de segunda-feira, nove e meia da manhã.
Os responsáveis pela limpeza do Estádio
Silveirão, lentamente caminhando pelo pátio do estacionamento, vão juntando o
que restou da festa de mais um clássico da cidade. Enquanto isso conversam
sobre a vitória do time da casa. Com orgulho, beijavam o escudo do Clube
Atlético Libertadores. Exaltavam a garra e as habilidades de cada um dos
“Soldados”, como eram chamados os jogadores do Libertadores. Eram mais uma vez
campeões estaduais. E mais uma vez em cima dos eternos rivais, o América
Esporte Clube.
- Eu te disse Odair! Te disse que a gente
não perdia esse jogo. Essa gurizada tá voando!
- Mas bem que tu te assustou. Foi um 2 X 1
desses de matar velho cardíaco.
- Bah! Foi demais, mas eu levava fé na
gurizada.
- E aquela bola que o Lindomar colocou no
travessão no final quando o jogo ainda tava empatado?
- Meu Deus! Naquela bola eu achei que a
gente ia perder por azar. O Lindomar Cabeleira não erra esse tipo de gol! Já
tinha deixado um e se faz aquele seria o alivio. Evitaria a prorrogação e todo
aquele sofrimento extra.
- É verdade. Mas ele foi o nome do jogo. Fez
os dois gols! Matou o jogo e hoje tá na capa de todos os jornais.
- Ele sempre foi artilheiro. Passou por
vários clubes do interior do país até vir pra cá. Vai fazer um belo campeonato
nacional.
- Com certeza.
Eis que nesse momento eles vêem o carro do
centroavante Lindomar entrando no pátio. Algo muito estranho. O centroavante e
homem da decisão, tão cedo no clube? Algo não estava bem. Eles já haviam achado
estranho ele não ter aparecido na festa do título depois do jogo.
Lindomar estacionou na vaga mais próxima da
entrada para os vestiários. Passou voando pela dupla que conversava e antes de
entrar no prédio ouviu um dos faxineiros dizer:
- Que jogo, hein guri? Parabéns.
Respondeu:
-Obrigado Seu Nélson.
Seu Nélson percebeu um abatimento no rosto
de Lindomar. Não era cansaço, era tristeza. Mas como isso seria possível? Ele
havia feito os dois gols do título a menos de 24 horas. E além do mais, ele era
um desses centroavantes figurões. Forte como um tanque, bruto como um trator e,
quando preciso, leve como um beija-flor. Cirúrgico e fazedor de gols. Era um
Matador.Tinha olhos de matador, andar de matador, cheiro de matador. Aqueles
olhos não eram os dele. Não, aquela não era a mirada de um Centroavante com
"C" maiúsculo.
Os faxineiros se olharam com caras de ponto
de interrogação. Sentiram uma atmosfera de tensão ao redor de seu ídolo.
Lindomar cruzou portas e corredores até a
antessala do gabinete do presidente do clube.
Falou para a secretária:
- Bom dia Dona Eva. Eu preciso marcar uma
reunião urgente com o presidente e com o treinador.Tem que ser para essa manhã.
Ligue para eles por favor, é sério.
- Claro, Lindão. Eu ligo para eles. Mas tem
mais alguma coisa em que eu possa te
ajudar?
- Obrigado Dona Eva. É só isso que eu
preciso. Vou ficar nos vestiários por enquanto. Quando eles chegarem manda
alguém me chamar, faz favor.
- Tá bom. Eu mando alguém ir lá te buscar. A
propósito, parabéns pelo jogo de ontem!
-Obrigado. Espero lá embaixo.
Lindomar caminhou devagar pelos mesmos
corredores que havia passado correndo momentos antes. No caminho até o
vestiário principal cruzou por mais alguns funcionários do clube. Cumprimentou
todos pelo nome. Ganhou alguns abraços, beijos, puxões de orelha e beliscões na
bunda ao longo do trajeto. Chegou no vestiário abriu as portas do seu armário,
deu uma boa olhada, caminhou em círculos por alguns instantes e sentou-se em um
banco.
Os hematomas provenientes de uma final de
campeonato ainda doíam muito. Nas suas pernas e nas suas costas marcas de
travas de chuteiras ainda queimavam em sua pele. Estava cansado. Foi uma noite
cansativa, desgastante. Deitou-se no banco e cochilou.
Cerca de uma hora e meia passou até que
Lindomar foi cutucado pelo Office boy do clube.
- Lindomar. Acorda. Lindomar.
- Que foi?
- O presidente já chegou e o treinador já
deve estar chegando. Pode ir até a sala da presidência que ele já está te
esperando. Certo?
- Tá bom, já vou. Vou no banheiro lavar o
rosto e já subo lá. Obrigado.
Agora não havia mais como voltar atrás. O
presidente já estava lá esperando. Mas,mesmo se houvesse como, ele não voltaria
atrás. Estava decidido a sair dali com seu problema resolvido.
Respirou fundo e saiu do vestiário decidido.
Tão decidido quanto ia em direção ao gramado encontrar a massa de torcedores
dessa vez ele foi no sentido contrário.Foi para a sala do presidente com passos
firmes, decididos. Passadas de centroavante.
Passou pela antessala como se estivesse
puxando um contra ataque. Entrou sem bater.
- Bom dia Seu Paulo.
- Bom dia meu artilheiro! Que está
acontecendo rapaz? Porque você nos chamou até aqui? Estou preocupado. Fala,pode
falar. Eu estou aqui para te escutar. Com uma puta ressaca, mas a tua
disposição guri.
Lindomar
foi direto:
- Eu vim pedir demissão doutor.
O
presidente silenciou por alguns segundos, gargalhou e disse:
- Já pensou, hahahaha. Que loucura, o cara
se consagra no domingo e pede demissão na segunda pela manhã – divertiu-se o
presidente com tal improvável situação – Mas agora me conta o que houve?
- É sério doutor – afirmou Lindomar, com
cara de batedor de pênalti.
- Que brincadeira boba é essa guri?
- Ontem eu fiz minha última partida pelo
Libertadores. Me desculpe mas nada vai me fazer mudar de ideia.
- Mas o que houve? Não consigo entender.
Olha aqui se isso é uma estratégia para conseguir aumento de salário eu logo já
v...
- Doutor! O senhor não está escutando? Eu já
disse, ontem foi minha última partida com essa camisa, portanto, não vim para
negociar aumento de salário. Para isso eu tenho um procurador.
O
presidente sente firmeza no olhar matador e começa a argumentar:
- Cara tu não podes sair assim do
Libertadores. Ontem tu fostes muito importante na conquista do campeonato.
Fizestes dois gols! A torcida te ama, o elenco te adora, tens o apoio do
treinador e da comissão técnica. O que te falta?
- Não me falta nada doutor – balbuciou
Lindomar com a cabeça e os ombros baixos. Nem de longe lembrava um
centroavante. Nem de longe lembrava aquele artilheiro intimidador. Na frente do
dirigente estava um outro homem. Uma fera acuada, assustada e muito abatida.
- Então,garoto,que palhaçada é essa que está
acontecendo aqui?
- Eu vou explicar. Espero que o senhor
entenda o meu lado e me libere.
- Comece! Vamos ver o que te molesta guri e
como resolvemos isso.
Nesse momento entra na sala o treinador. O
presidente sente que com a ajuda do "professor" o centroavante vai
recuar.
- Oh, Moreira. Ainda bem que tu chegou. Não
estou entendendo nada aqui, talvez você possa me ajudar. Esse guri está me
dizendo que não vai mais vestir a nossa camisa. Que quer ser liberado.
O treinador
sem entender:
- Que brincadeira é essa, Lindomar?Tá
ficando louco?
- Já ia começar a explicar ai o senhor
chegou.
- Então continua.
- Sim professor.Eu disse para o Seu Paulo
que não vou jogar mais aqui. E, antes que o senhor chegue na mesma conclusão
que ele, não vim aqui meter pressão por aumento de salário. Só quero ser
liberado por motivos pessoais. De maneira rápida, amistosa e tranquila.
- E tu vai para onde? – perguntou o
presidente ainda atônito.
- Isso é mais delicado.
O
presidente em tom de deboche:
- Delicado? Delicado seria se tu fosse
embora para o América – o presidente com um sorrisinho no canto da boca,
sorrisinho que sumiria na próxima resposta do Lindomar.
- É isso mesmo Seu Paulo. Eu vou para o
América.
Nesse instante instaurou-se uma pausa
dramática e tensa. Os olhares, entre os três, se encontravam e desencontravam
em silêncio.
- Que merda é essa que tu estas dizendo
guri? Oh, Moreira, pergunta para esse cara o que foi que ele usou essa noite.
Ele ainda tá muito louco e já é quase meio-dia.
- Não é merda doutor. Eu vou me mudar para o
América.
Cada vez que o centroavante dizia isso o
presidente se retorcia na cadeira confortável de onde dirigia o clube. O
treinador também queria saber mais:
- Mas como assim, tu vai para o América? Nos
acabamos de ganhar um campeonato em cima deles e tu marcou os gols do jogo.
Quem está negociando contigo?
- Professor, não tem ninguém negociando comigo.
Eu vou para o América por amor!
- Ai meu Deus! O cara é torcedor do América!
– desesperou-se o presidente.
- Não sou torcedor do América. Sou
centroavante. Centroavante não tem time do coração. Centroavante ama fazer gol.
Eu vou por amor, mas não pelo clube.
- Então que diabos de amor é esse guri? –
perdeu a paciência o treinador Moreira – Tu não tens nem namorada!
Lindomar
respirou fundo e contou seu dilema:
- Eu namoro escondido, professor. Estou com
a filha do presidente vitalício do América. E nessa semana resolvemos nos
casar, ela me apresentou como seu namorado e eu pedi a mão dela em casamento.
- Tá, guri! Até ai tudo bem. Mas porque sair
do clube. Tu matou o time do teu sogro ontem e jogou muita bola. Qual é o
problema então?
- Ele não aceitou. Disse que nem a pau ele
entrega a mão da filha dele para o centroavante do Libertadores.
- Que doente – disse o treinador.
- Eu entendo ele. Eu faria o mesmo – afirmou
baixinho o presidente.
- Então essa final estava valendo em dobro
para mim. Ajudar o Libertadores a ser campeão e fazer aquele velho filha da mãe
sofrer. Queria ajudar a ganhar o título sim, mas sem uma participação decisiva.
Seria discreto em campo e, assim não seria o objeto de ódio do pai dela. Esse
era o meu plano para dobrar o velho. Eu amo essa mulher. Ela também me ama, mas
ama o pai e ama o maldito América também.
- Isso eu nunca vi. Tenho trinta anos de
profissão. Uma copa do mundo, trabalhei em seis países diferentes e lidei com
todo tipo de pedido de demissão. Mas por amor à filha do presidente do maior
rival é inédito para mim – o treinador Moreira continuava embasbacado.
Lindomar
continuou:
- Ela não quer atender minhas ligações desde
ontem depois do jogo. Cada gol que eu fiz foi acompanhado de uma dor desgraçada
no meu coração. Mas eu sou centroavante e não resisto. A bola se oferece e eu
tenho que guardar. É lindo o som da rede estufando. É lindo ver a festa da
torcida, a cara dos companheiros e do goleiro adversário. Isso é irresistível
para um centroavante.
O
presidente sai do silêncio:
- Mas você foi o melhor em campo. Quando
você tomou essa decisão?
Lindomar
com os olhos fechados:
- Na sexta-feira. Depois de fritar na cama
em busca de uma solução para esse impasse, decidi honrar essa camisa e fazer o
melhor para ajudar os companheiros. Fui profissional com o clube. Mantive a
promessa que fiz quando cheguei. Dei o melhor que podia naquele momento, acima
das dores físicas e emocionais, acima do meu amor por essa mulher. Antes do
jogo, quando estávamos perfilados escutando o hino nacional, eu consegui
localizar ela nos camarotes. Ao lado do pai. Ela tava linda, radiante.
Confiante na vitória de seu clube do coração. Mas eu estava ali para estragar a
alegria dela, cabia a mim o papel de carrasco. A bola rolou e logo de início eu
recebi aquele cruzamento açucarado do Eltinho na marca do pênalti. Eu estava
sozinho, livre de marcação, dominei no peito e não tive dúvidas, deixei cair e
bati forte e rasteiro de canhota no cantinho. Foi tudo muito rápido. Quando eu
vi já estava pendurado no alambrado sacudindo tudo e beijando a torcida.
- Foi um lindo gol, guri – suspirou o
presidente com o olhar marejado perdido na parede do gabinete.
Lindomar
continua:
- Aí veio o intervalo. Na saída eu olhei
para os camarotes e ela estava nervosa. Com uma cara sofrida, preocupada. Me
olhou e baixou a cabeça. O pai dela ficou me encarando com uma raiva
impressionante. Passei o tempo do intervalo sentindo que estava perdendo aquela
mulher, professor. O senhor me entende?
O treinador
olhando nos olhos de Lindomar:
- Por isso que ontem você não brigou com
ninguém no vestiário. Percebi que você estava muito calado.Mas como essa foi
nossa primeira final juntos,pensei que fosse a sua maneira de manter a
concentração.
Lindomar
coloca a mão no ombro do treinador e continua:
- Pois é professor. Na minha cabeça o drama
era gigante. Eu não queria perder essa final. Queria ganhar pela torcida, pelos
amigos, pelo profissionalismo e principalmente para maltratar o pai dela. Mas a
nossa vitória, por outro lado, causaria a tristeza do meu amor e seu pai me
odiaria ainda mais. Confesso que fiquei um pouco contente com o gol de empate
deles - Lindomar caminha pela sala - A nossa vitória já não era pelo meu gol.
Aí começou a pressão dos caras, bola na trave, uma sequência de escanteios. Eu
não gosto de perder e a coisa estava feia para o nosso lado. O jogo era lá e
cá. Eu preferindo passar a bola para os companheiros ao invés de chutar a gol.
Queria o título, mas queria, acima de tudo, ela. O problema é que um
centroavante não pode se esconder por muito tempo. A bola busca e o instinto é
mais forte que qualquer amor. Quando eu vi o Negueti correndo livre na direita
e o João lançando para ele, meu corpo foi em disparada para o bico da pequena
área. Parecia haver um imã me atraindo. O Negueti cruzou e eu, sem hesitar,
soltei a bomba de esquerda de primeira. Por um instante meu coração parou.
Peguei bem, peguei forte, a bola explodiu no travessão e meu coração voltou a
bater. Os ouvidos se destaparam com o grito da torcida:
UUUUUUUHHHHHHHHH!!!!!!!!!!!
O treinador
embarcando no drama narrado pelo centroavante apaixonado:
- Se tu faz esse gol não tinha prorrogação,
mas aí ia ficar sem a tua amada – concluiu o treinador, já parecendo entender e
respeitar o problema do seu camisa 9.
- É professor. Mas na hora eu não sábia se
era alivio ou raiva que eu sentia por ter desperdiçado a oportunidade. Mas
depois disso nada mais aconteceu. Fomos para a prorrogação. Torci que você me
substituísse. Assim haveria uma chance de não ser tão odiado pela família. Mas
isso não aconteceu. E eu não pediria para sair. Começou a prorrogação e o jogo
seguia quente, nervoso. Eu estava apanhando feito bicho e só sobravam bolas
mascadas no ataque. No ataque dos dois times. Nossos meias fazendo o que eu
queria. Chutando ao gol e dando passes errados para mim. Foi assim durante os
quinze minutos do primeiro tempo da prorrogação. Muita tensão e expectativa no
estádio. E o segundo tempo ia bem. Quase não toquei na bola até os nove
minutos. Mas eu sou centroavante e a bola me procura. Se ela não me encontra, meu
corpo é programado para ir até ela. Programado para empurrar a bola para dentro
do gol com qualquer parte do corpo e de qualquer forma possível.
Até que num
lance, um desses bate e rebate provocado pelos passes enforcados dos meias ao
nosso ataque, ela ficou limpa na minha frente, girando e se oferecendo para a
minha perna direita. Eu só tinha que me atirar de carrinho nela e guardar.
Minha mente dizendo: Não Lindomar, não vai na bola! E meu corpo deslizava em
câmera lenta. Centroavante não perde esses gols. Algum meia menos determinado perderia.
Um Centroavante, nunca. Lembro da bola entrando e os companheiros pulando sobre
mim que estava estirado no chão sem acreditar no que acabara de fazer.
- Cheguei a me arrepiar. – falou o
presidente com os olhos ainda marejados.
- Depois, ironicamente, o professor me
substituiu e colocou mais um defensor para garantir o resultado.
- Claro! Aí foi só administrar. Guri, eles
morreram depois do teu gol – falou todo orgulhoso o treinador.
- É. Eu sei.
- Tu faz um estrago neles e agora tu quer ir
pra lá guri? Mas quando você pensa em se apresentar lá? O que o seu procurador
te falou? – perguntou o presidente enquanto enxugava uma lágrima que teimava em
escapar no canto do olho.
- Ainda não negociamos. Eles não sabem que
eu quero ir para lá. Nem meu procurador sabe. Na verdade eu vou bater na casa
da minha guria e entregar os papeis da minha demissão ao pai dela. Depois
renovo o pedido de casamento. Quero ver se ele vai ter coragem de dizer não
outra vez.
- Tu estás louco guri. Pensa no que tu estas
me pedindo. Queres que eu te libere para ir bater na porta do meu maior rival e
te oferecer de graça para jogar lá?
- Se o problema é o dinheiro, doutor. Eu
devolvo os meus salários recebidos desde o início do ano, que foi quando eu
cheguei. Essa foi a única despesa que eu dei para vocês.
O
presidente sobe o tom:
- Não seja abusado Lindomar. Não estou
falando de dinheiro. Estou falando de carreira. Nosso clube está em uma
situação bem melhor que a deles. Pagamos em dia e melhor.
- Eu sei disso tudo doutor. Não estou indo
para nenhum lugar que eu não conheça. Sei do momento difícil que o América está
enfrentando. Sei dos problemas financeiros e políticos também. Mas eu amo essa
mulher.
- Eles estão na segundona Lindomar! Você tem
um futuro maravilhoso pela frente. Tem só 26 anos. Do jeito que tu faz gol, tu
vai parar na seleção. Ainda mais agora que vai jogar contra a elite e em um
clube grande.
-Pensa no teu futuro! Cara, tu vai querer
voltar a disputar a segunda divisão? Tu não pensa em seleção – interferiu o
treinador.
- Eu já fui selecionado professor. É isso
que vocês não querem entender. Ela me selecionou para casar. Então, por favor
me liberem para ir atrás do meu sonho. Eu quero fazer essa mulher feliz. Dentro
e fora dos gramados. Deixem-me ter a chance de tentar ser o marido perfeito.
O treinador ficou alguns segundos olhando
para o rosto do rapaz. Lindomar silenciosamente chorava. As lagrimas desciam
por sua face até o queixo e pingavam no tapete com as cores e o brasão do Clube
Atlético Libertadores. Depois desse silêncio fúnebre, o treinador se pronuncia:
- Paulo, libera o guri.
- Tu estas louco também, Moreira? Porra,
Moreira, me deixa pensar!
- Pensar o que, Paulo?
- Como eu vou fazer para liberar o nosso
artilheiro? O que eu vou dizer para a torcida?
- Como assim, o que vai dizer? Vamos dizer a
verdade. Vamos dizer que o nosso centroavante decidiu que só joga por amor
daqui para frente.
Silêncio.
- Espero que você me mande pelo menos um
convite de casamento, guri. Vou mandar preparar os papéis de sua dispensa para
hoje. Pode correr atrás da tua Julieta do América Esporte Clube.
- Obrigado, doutor. Vou ser eternamente
grato.
- Me faz um favor, então? Pela nossa
amizade?
- Se eu puder.
- Quando for jogar contra a gente, pega
leve, tira o pé – propôs o dirigente com uma piscadela de olho.
- Prometo tentar, Seu Paulo. Mas sabe como
é, né? Eu sou centroavante e meu corpo é programado para fazer gols.
- Já vi tudo. Cai fora da minha sala, guri!
Vai ser feliz na segundona, Romeu!
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