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segunda-feira, 22 de agosto de 2011

Meu centroavante quer casar!

Meu centroavante quer casar!


Manhã calma de segunda-feira, nove e meia da manhã.
   Os responsáveis pela limpeza do Estádio Silveirão, lentamente caminhando pelo pátio do estacionamento, vão juntando o que restou da festa de mais um clássico da cidade. Enquanto isso conversam sobre a vitória do time da casa. Com orgulho, beijavam o escudo do Clube Atlético Libertadores. Exaltavam a garra e as habilidades de cada um dos “Soldados”, como eram chamados os jogadores do Libertadores. Eram mais uma vez campeões estaduais. E mais uma vez em cima dos eternos rivais, o América Esporte Clube.

   - Eu te disse Odair! Te disse que a gente não perdia esse jogo. Essa gurizada tá voando!
   - Mas bem que tu te assustou. Foi um 2 X 1 desses de matar velho cardíaco.
   - Bah! Foi demais, mas eu levava fé na gurizada.
   - E aquela bola que o Lindomar colocou no travessão no final quando o jogo ainda tava empatado?
   - Meu Deus! Naquela bola eu achei que a gente ia perder por azar. O Lindomar Cabeleira não erra esse tipo de gol! Já tinha deixado um e se faz aquele seria o alivio. Evitaria a prorrogação e todo aquele sofrimento extra.
   - É verdade. Mas ele foi o nome do jogo. Fez os dois gols! Matou o jogo e hoje tá na capa de todos os jornais.
   - Ele sempre foi artilheiro. Passou por vários clubes do interior do país até vir pra cá. Vai fazer um belo campeonato nacional.
   - Com certeza.

   Eis que nesse momento eles vêem o carro do centroavante Lindomar entrando no pátio. Algo muito estranho. O centroavante e homem da decisão, tão cedo no clube? Algo não estava bem. Eles já haviam achado estranho ele não ter aparecido na festa do título depois do jogo.
   Lindomar estacionou na vaga mais próxima da entrada para os vestiários. Passou voando pela dupla que conversava e antes de entrar no prédio ouviu um dos faxineiros dizer:

   - Que jogo, hein guri? Parabéns.

   Respondeu:

   -Obrigado Seu Nélson.

   Seu Nélson percebeu um abatimento no rosto de Lindomar. Não era cansaço, era tristeza. Mas como isso seria possível? Ele havia feito os dois gols do título a menos de 24 horas. E além do mais, ele era um desses centroavantes figurões. Forte como um tanque, bruto como um trator e, quando preciso, leve como um beija-flor. Cirúrgico e fazedor de gols. Era um Matador.Tinha olhos de matador, andar de matador, cheiro de matador. Aqueles olhos não eram os dele. Não, aquela não era a mirada de um Centroavante com "C" maiúsculo.
   Os faxineiros se olharam com caras de ponto de interrogação. Sentiram uma atmosfera de tensão ao redor de seu ídolo.
   Lindomar cruzou portas e corredores até a antessala do gabinete do presidente do clube.

   Falou para a secretária:

   - Bom dia Dona Eva. Eu preciso marcar uma reunião urgente com o presidente e com o treinador.Tem que ser para essa manhã. Ligue para eles por favor, é sério.
   - Claro, Lindão. Eu ligo para eles. Mas tem mais alguma coisa  em que eu possa te ajudar?
   - Obrigado Dona Eva. É só isso que eu preciso. Vou ficar nos vestiários por enquanto. Quando eles chegarem manda alguém me chamar, faz favor.
   - Tá bom. Eu mando alguém ir lá te buscar. A propósito, parabéns pelo jogo de ontem!
   -Obrigado. Espero lá embaixo.

   Lindomar caminhou devagar pelos mesmos corredores que havia passado correndo momentos antes. No caminho até o vestiário principal cruzou por mais alguns funcionários do clube. Cumprimentou todos pelo nome. Ganhou alguns abraços, beijos, puxões de orelha e beliscões na bunda ao longo do trajeto. Chegou no vestiário abriu as portas do seu armário, deu uma boa olhada, caminhou em círculos por alguns instantes e sentou-se em um banco.
   Os hematomas provenientes de uma final de campeonato ainda doíam muito. Nas suas pernas e nas suas costas marcas de travas de chuteiras ainda queimavam em sua pele. Estava cansado. Foi uma noite cansativa, desgastante. Deitou-se no banco e cochilou.

   Cerca de uma hora e meia passou até que Lindomar foi cutucado pelo Office boy do clube.

   - Lindomar. Acorda. Lindomar.
   - Que foi?
   - O presidente já chegou e o treinador já deve estar chegando. Pode ir até a sala da presidência que ele já está te esperando. Certo?
   - Tá bom, já vou. Vou no banheiro lavar o rosto e já subo lá. Obrigado.

   Agora não havia mais como voltar atrás. O presidente já estava lá esperando. Mas,mesmo se houvesse como, ele não voltaria atrás. Estava decidido a sair dali com seu problema resolvido.
   Respirou fundo e saiu do vestiário decidido. Tão decidido quanto ia em direção ao gramado encontrar a massa de torcedores dessa vez ele foi no sentido contrário.Foi para a sala do presidente com passos firmes, decididos. Passadas de centroavante.
   Passou pela antessala como se estivesse puxando um contra ataque. Entrou sem bater.

   - Bom dia Seu Paulo.
   - Bom dia meu artilheiro! Que está acontecendo rapaz? Porque você nos chamou até aqui? Estou preocupado. Fala,pode falar. Eu estou aqui para te escutar. Com uma puta ressaca, mas a tua disposição guri.

Lindomar foi direto:

   - Eu vim pedir demissão doutor.

O presidente silenciou por alguns segundos, gargalhou e disse:

   - Já pensou, hahahaha. Que loucura, o cara se consagra no domingo e pede demissão na segunda pela manhã – divertiu-se o presidente com tal improvável situação – Mas agora me conta o que houve?
   - É sério doutor – afirmou Lindomar, com cara de batedor de pênalti.
   - Que brincadeira boba é essa guri?
   - Ontem eu fiz minha última partida pelo Libertadores. Me desculpe mas nada vai me fazer mudar de ideia.
   - Mas o que houve? Não consigo entender. Olha aqui se isso é uma estratégia para conseguir aumento de salário eu logo já v...
   - Doutor! O senhor não está escutando? Eu já disse, ontem foi minha última partida com essa camisa, portanto, não vim para negociar aumento de salário. Para isso eu tenho um procurador.

O presidente sente firmeza no olhar matador e começa a argumentar:

   - Cara tu não podes sair assim do Libertadores. Ontem tu fostes muito importante na conquista do campeonato. Fizestes dois gols! A torcida te ama, o elenco te adora, tens o apoio do treinador e da comissão técnica. O que te falta?

   - Não me falta nada doutor – balbuciou Lindomar com a cabeça e os ombros baixos. Nem de longe lembrava um centroavante. Nem de longe lembrava aquele artilheiro intimidador. Na frente do dirigente estava um outro homem. Uma fera acuada, assustada e muito abatida.

   - Então,garoto,que palhaçada é essa que está acontecendo aqui?
   - Eu vou explicar. Espero que o senhor entenda o meu lado e me libere.
   - Comece! Vamos ver o que te molesta guri e como resolvemos isso.
 
   Nesse momento entra na sala o treinador. O presidente sente que com a ajuda do "professor" o centroavante vai recuar.

   - Oh, Moreira. Ainda bem que tu chegou. Não estou entendendo nada aqui, talvez você possa me ajudar. Esse guri está me dizendo que não vai mais vestir a nossa camisa. Que quer ser liberado.

O treinador sem entender:

   - Que brincadeira é essa, Lindomar?Tá ficando louco?
   - Já ia começar a explicar ai o senhor chegou.
   - Então continua.
   - Sim professor.Eu disse para o Seu Paulo que não vou jogar mais aqui. E, antes que o senhor chegue na mesma conclusão que ele, não vim aqui meter pressão por aumento de salário. Só quero ser liberado por motivos pessoais. De maneira rápida, amistosa e tranquila.
   - E tu vai para onde? – perguntou o presidente ainda atônito.
   - Isso é mais delicado.

O presidente em tom de deboche:

   - Delicado? Delicado seria se tu fosse embora para o América – o presidente com um sorrisinho no canto da boca, sorrisinho que sumiria na próxima resposta do Lindomar.

   - É isso mesmo Seu Paulo. Eu vou para o América.

   Nesse instante instaurou-se uma pausa dramática e tensa. Os olhares, entre os três, se encontravam e desencontravam em silêncio.

   - Que merda é essa que tu estas dizendo guri? Oh, Moreira, pergunta para esse cara o que foi que ele usou essa noite. Ele ainda tá muito louco e já é quase meio-dia.
   - Não é merda doutor. Eu vou me mudar para o América.

   Cada vez que o centroavante dizia isso o presidente se retorcia na cadeira confortável de onde dirigia o clube. O treinador também queria saber mais:

   - Mas como assim, tu vai para o América? Nos acabamos de ganhar um campeonato em cima deles e tu marcou os gols do jogo. Quem está negociando contigo?
   - Professor, não tem ninguém negociando comigo. Eu vou para o América por amor!
   - Ai meu Deus! O cara é torcedor do América! – desesperou-se o presidente.
   - Não sou torcedor do América. Sou centroavante. Centroavante não tem time do coração. Centroavante ama fazer gol. Eu vou por amor, mas não pelo clube.
   - Então que diabos de amor é esse guri? – perdeu a paciência o treinador Moreira – Tu não tens nem namorada!

Lindomar respirou fundo e contou seu dilema:

   - Eu namoro escondido, professor. Estou com a filha do presidente vitalício do América. E nessa semana resolvemos nos casar, ela me apresentou como seu namorado e eu pedi a mão dela em casamento.
   - Tá, guri! Até ai tudo bem. Mas porque sair do clube. Tu matou o time do teu sogro ontem e jogou muita bola. Qual é o problema então?
   - Ele não aceitou. Disse que nem a pau ele entrega a mão da filha dele para o centroavante do Libertadores.
   - Que doente – disse o treinador.
   - Eu entendo ele. Eu faria o mesmo – afirmou baixinho o presidente.
   - Então essa final estava valendo em dobro para mim. Ajudar o Libertadores a ser campeão e fazer aquele velho filha da mãe sofrer. Queria ajudar a ganhar o título sim, mas sem uma participação decisiva. Seria discreto em campo e, assim não seria o objeto de ódio do pai dela. Esse era o meu plano para dobrar o velho. Eu amo essa mulher. Ela também me ama, mas ama o pai e ama o maldito América também.
   - Isso eu nunca vi. Tenho trinta anos de profissão. Uma copa do mundo, trabalhei em seis países diferentes e lidei com todo tipo de pedido de demissão. Mas por amor à filha do presidente do maior rival é inédito para mim – o treinador Moreira continuava embasbacado.

Lindomar continuou:

   - Ela não quer atender minhas ligações desde ontem depois do jogo. Cada gol que eu fiz foi acompanhado de uma dor desgraçada no meu coração. Mas eu sou centroavante e não resisto. A bola se oferece e eu tenho que guardar. É lindo o som da rede estufando. É lindo ver a festa da torcida, a cara dos companheiros e do goleiro adversário. Isso é irresistível para um centroavante.

O presidente sai do silêncio:

   - Mas você foi o melhor em campo. Quando você tomou essa decisão?

Lindomar com os olhos fechados:

   - Na sexta-feira. Depois de fritar na cama em busca de uma solução para esse impasse, decidi honrar essa camisa e fazer o melhor para ajudar os companheiros. Fui profissional com o clube. Mantive a promessa que fiz quando cheguei. Dei o melhor que podia naquele momento, acima das dores físicas e emocionais, acima do meu amor por essa mulher. Antes do jogo, quando estávamos perfilados escutando o hino nacional, eu consegui localizar ela nos camarotes. Ao lado do pai. Ela tava linda, radiante. Confiante na vitória de seu clube do coração. Mas eu estava ali para estragar a alegria dela, cabia a mim o papel de carrasco. A bola rolou e logo de início eu recebi aquele cruzamento açucarado do Eltinho na marca do pênalti. Eu estava sozinho, livre de marcação, dominei no peito e não tive dúvidas, deixei cair e bati forte e rasteiro de canhota no cantinho. Foi tudo muito rápido. Quando eu vi já estava pendurado no alambrado sacudindo tudo e beijando a torcida.

   - Foi um lindo gol, guri – suspirou o presidente com o olhar marejado perdido na parede do gabinete.

Lindomar continua:

   - Aí veio o intervalo. Na saída eu olhei para os camarotes e ela estava nervosa. Com uma cara sofrida, preocupada. Me olhou e baixou a cabeça. O pai dela ficou me encarando com uma raiva impressionante. Passei o tempo do intervalo sentindo que estava perdendo aquela mulher, professor. O senhor me entende?

O treinador olhando nos olhos de Lindomar:

   - Por isso que ontem você não brigou com ninguém no vestiário. Percebi que você estava muito calado.Mas como essa foi nossa primeira final juntos,pensei que fosse a sua maneira de manter a concentração.

Lindomar coloca a mão no ombro do treinador e continua:

   - Pois é professor. Na minha cabeça o drama era gigante. Eu não queria perder essa final. Queria ganhar pela torcida, pelos amigos, pelo profissionalismo e principalmente para maltratar o pai dela. Mas a nossa vitória, por outro lado, causaria a tristeza do meu amor e seu pai me odiaria ainda mais. Confesso que fiquei um pouco contente com o gol de empate deles - Lindomar caminha pela sala - A nossa vitória já não era pelo meu gol. Aí começou a pressão dos caras, bola na trave, uma sequência de escanteios. Eu não gosto de perder e a coisa estava feia para o nosso lado. O jogo era lá e cá. Eu preferindo passar a bola para os companheiros ao invés de chutar a gol. Queria o título, mas queria, acima de tudo, ela. O problema é que um centroavante não pode se esconder por muito tempo. A bola busca e o instinto é mais forte que qualquer amor. Quando eu vi o Negueti correndo livre na direita e o João lançando para ele, meu corpo foi em disparada para o bico da pequena área. Parecia haver um imã me atraindo. O Negueti cruzou e eu, sem hesitar, soltei a bomba de esquerda de primeira. Por um instante meu coração parou. Peguei bem, peguei forte, a bola explodiu no travessão e meu coração voltou a bater. Os ouvidos se destaparam com o grito da torcida: UUUUUUUHHHHHHHHH!!!!!!!!!!!

O treinador embarcando no drama narrado pelo centroavante apaixonado:

   - Se tu faz esse gol não tinha prorrogação, mas aí ia ficar sem a tua amada – concluiu o treinador, já parecendo entender e respeitar o problema do seu camisa 9.

   - É professor. Mas na hora eu não sábia se era alivio ou raiva que eu sentia por ter desperdiçado a oportunidade. Mas depois disso nada mais aconteceu. Fomos para a prorrogação. Torci que você me substituísse. Assim haveria uma chance de não ser tão odiado pela família. Mas isso não aconteceu. E eu não pediria para sair. Começou a prorrogação e o jogo seguia quente, nervoso. Eu estava apanhando feito bicho e só sobravam bolas mascadas no ataque. No ataque dos dois times. Nossos meias fazendo o que eu queria. Chutando ao gol e dando passes errados para mim. Foi assim durante os quinze minutos do primeiro tempo da prorrogação. Muita tensão e expectativa no estádio. E o segundo tempo ia bem. Quase não toquei na bola até os nove minutos. Mas eu sou centroavante e a bola me procura. Se ela não me encontra, meu corpo é programado para ir até ela. Programado para empurrar a bola para dentro do gol com qualquer parte do corpo e de qualquer forma possível.
Até que num lance, um desses bate e rebate provocado pelos passes enforcados dos meias ao nosso ataque, ela ficou limpa na minha frente, girando e se oferecendo para a minha perna direita. Eu só tinha que me atirar de carrinho nela e guardar. Minha mente dizendo: Não Lindomar, não vai na bola! E meu corpo deslizava em câmera lenta. Centroavante não perde esses gols. Algum meia menos determinado perderia. Um Centroavante, nunca. Lembro da bola entrando e os companheiros pulando sobre mim que estava estirado no chão sem acreditar no que acabara de fazer.

   - Cheguei a me arrepiar. – falou o presidente com os olhos ainda marejados.
   - Depois, ironicamente, o professor me substituiu e colocou mais um defensor para garantir o resultado.
   - Claro! Aí foi só administrar. Guri, eles morreram depois do teu gol – falou todo orgulhoso o treinador.
   - É. Eu sei. 
   - Tu faz um estrago neles e agora tu quer ir pra lá guri? Mas quando você pensa em se apresentar lá? O que o seu procurador te falou? – perguntou o presidente enquanto enxugava uma lágrima que teimava em escapar no canto do olho.
   - Ainda não negociamos. Eles não sabem que eu quero ir para lá. Nem meu procurador sabe. Na verdade eu vou bater na casa da minha guria e entregar os papeis da minha demissão ao pai dela. Depois renovo o pedido de casamento. Quero ver se ele vai ter coragem de dizer não outra vez.
   - Tu estás louco guri. Pensa no que tu estas me pedindo. Queres que eu te libere para ir bater na porta do meu maior rival e te oferecer de graça para jogar lá?
   - Se o problema é o dinheiro, doutor. Eu devolvo os meus salários recebidos desde o início do ano, que foi quando eu cheguei. Essa foi a única despesa que eu dei para vocês.

O presidente sobe o tom:

   - Não seja abusado Lindomar. Não estou falando de dinheiro. Estou falando de carreira. Nosso clube está em uma situação bem melhor que a deles. Pagamos em dia e melhor.
   - Eu sei disso tudo doutor. Não estou indo para nenhum lugar que eu não conheça. Sei do momento difícil que o América está enfrentando. Sei dos problemas financeiros e políticos também. Mas eu amo essa mulher.
   - Eles estão na segundona Lindomar! Você tem um futuro maravilhoso pela frente. Tem só 26 anos. Do jeito que tu faz gol, tu vai parar na seleção. Ainda mais agora que vai jogar contra a elite e em um clube grande.
   -Pensa no teu futuro! Cara, tu vai querer voltar a disputar a segunda divisão? Tu não pensa em seleção – interferiu o treinador.
   - Eu já fui selecionado professor. É isso que vocês não querem entender. Ela me selecionou para casar. Então, por favor me liberem para ir atrás do meu sonho. Eu quero fazer essa mulher feliz. Dentro e fora dos gramados. Deixem-me ter a chance de tentar ser o marido perfeito.
 
   O treinador ficou alguns segundos olhando para o rosto do rapaz. Lindomar silenciosamente chorava. As lagrimas desciam por sua face até o queixo e pingavam no tapete com as cores e o brasão do Clube Atlético Libertadores. Depois desse silêncio fúnebre, o treinador se pronuncia:
 
   - Paulo, libera o guri.
   - Tu estas louco também, Moreira? Porra, Moreira, me deixa pensar!
   - Pensar o que, Paulo?
   - Como eu vou fazer para liberar o nosso artilheiro? O que eu vou dizer para a torcida?
   - Como assim, o que vai dizer? Vamos dizer a verdade. Vamos dizer que o nosso centroavante decidiu que só joga por amor daqui para frente.
 
   Silêncio.

   - Espero que você me mande pelo menos um convite de casamento, guri. Vou mandar preparar os papéis de sua dispensa para hoje. Pode correr atrás da tua Julieta do América Esporte Clube.
   - Obrigado, doutor. Vou ser eternamente grato.
   - Me faz um favor, então? Pela nossa amizade?
   - Se eu puder.
   - Quando for jogar contra a gente, pega leve, tira o pé – propôs o dirigente com uma piscadela de olho.
   - Prometo tentar, Seu Paulo. Mas sabe como é, né? Eu sou centroavante e meu corpo é programado para fazer gols.

   - Já vi tudo. Cai fora da minha sala, guri! Vai ser feliz na segundona, Romeu!

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