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AQUI EU DEIXO MINHA MENTE VOAR,IMAGINO E RELEMBRO SITUAÇÕES,ME PERCO ENTRE O REAL E O IMAGINÁRIO.

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segunda-feira, 3 de outubro de 2011

O Gre-nal e os vizinhos colorados


O Grenal e os vizinhos colorados
 
(Quando acaba um Grenal? Quem ganha um Grenal?)
  
    -  Angelaaa!!! E esses petiscos, já estão prontos?

   -  Que pressa é essa, Marcelo? Não grita que eu não funciono sob pressão! Estão quase prontos falta só abrir o pote das azeitonas. Dá pra ti vir aqui ou eu vou ter que esperar o Roberto chegar pra pedir para ele?

   -  Tô indo.


   Marcelo se deslocou do quintal para a cozinha observando tudo. Passou pela sala deu uma arrumada nas almofadas,conferiu se toda a aparelhagem de áudio e vídeo estava "ok" e se todos os controles remotos estavam a mão. Na cozinha foi direto até a geladeira e conferiu a temperatura da cerveja. Tudo certo,só faltava abrir o vidro de azeitonas.

   Abriu o vidro de azeitonas e correu para o quarto.

   Hora de colocar a camisa e a cueca da sorte. Gre-nal sempre deixava o Marcelo pilhado. E esse era rodeado de expectativas e superstições. Era o primeiro Grenal em sua nova casa. Havia sido transferido há pouco tempo para essa cidade. A empresa onde trabalhava transferiu sua sede para a capital e todos os funcionários se viram obrigados a seguir junto. Cada um deles foi alojado em uma cômoda casa de condomínio fechado na zona sul de Porto Alegre. Uma vila só de “colaboradores” colegas.

   Para esse Gre-nal, Marcelo convidou um colega de escritório, Roberto. Fazia pouco que havia sido contratado e por uma dessas conspirações do destino acabou se instalando na casa ao lado da de Marcelo. Não demorou muito a surgir uma certa simpatia entre eles. Faziam jantares um na casa do outro e aproveitavam para conversar sobre futebol e negócios até altas horas. Para Marcelo, Roberto era um cara quase legal, pena que era muito convencido e colorado. Dois defeitos imperdoáveis para Marcelo. Para compensar, pelo menos ele também gostava de uma cervejinha e a mulher dele era espetacular. Daquelas mulheres que valorizam o imóvel só por frequentar ele. Marcelo apreciava ver ela ziguezagueando entre os móveis da casa. Babava pelo rebolado quase vulgar daquela mulher. E hoje era dia de desfile na sua casa. Será que conseguiria prestar atenção no jogo? Em outros jogos ele conseguia administrar bem a divisão da atenção entre a tela da televisão e os passos graciosos dela. Mas esse era Grenal!!! Não poderia dividir atenções mesmo que, há tempos, ela habitasse o seu imaginário de macho fantasioso. Ela já havia dado brechas para ele. Frases ensopadas de duplo sentido e carregadas de segundas intenções largadas em momentos estratégicos em circunstância propicias.

   Marcelo era pura adrenalina. Uma tarde de Grenal mais essa gostosa perturbadora perambulando para lá e para cá na sua sala. Precisava de um Whisky, duplo, sem gelo. Serviu e bebeu de forma afobada.

   Não demorou muito o casal estava lá. Roberto trazendo um fardinho de loiras geladas em uma mão e sua morena quente na outra. Ele vestia uma camisa do Escurinho e ela uma baby look do D’Alessandro.

   Marcelo apertou a mão de Roberto e disse para ele ficar a vontade. Enquanto Roberto levava a cerveja para a geladeira, Marcelo esperava a esposa dele parar de brincar com o cachorro e entrar. Fazia questão de recebê-la, cumprimentá-la, cheirá-la. Ela parou de brincar com o cachorro olhou para Marcelo, sorriu e entrou.


   - Oi Marcelo, tudo bem?

   - Tudo. Nossa Vanessa, como você está bonita! Pena essa camisa vermelha.

   - Jura? Mas se o problema for a camisa, eu tiro se tu pedir com jeitinho.

  

   Ui! Essa deixou até o narrador sem graça. Ele não teve resposta para dar. Apenas corou e sorriu.



   Jogo prestes a começar. Hinos do Brasil e do Rio Grande do Sul.

   Marcelo olha para a sua mulher e ela está sentada no sofá lixando as unhas e alheia a importância do jogo. Enquanto isso a mulher do Roberto cantava o Hino Rio-Grandense a plenos pulmões e ficava dando incentivos para os atletas do Internacional que passavam pela tela.

   A partida começa. Estava difícil de concentrar-se. O jogo era tenso, mas ele queria era olhar aquela mulher. Se contentava apenas em olhar. Olhar para ela já era sentir prazer.

   Dez minutos de jogo e o primeiro balde de água fria. Os dois times estavam parelhos, do goleiro ao segundo atacante. Mas havia um diferencial. O Colorado tinha centroavante. E ele não perdoou. Bola lançada na área e sem maiores problemas ele emendou um sem-pulo no contrapé do goleiro. Lindo gol e a arquibancada visitante em festa.

   Casal Colorado feliz na casa Tricolor. Ele vibrando no sofá com o copo de Polar na mão. Ela soltando gritinhos de feliz no caminho até a cozinha enquanto buscava mais uma ceva pra galera. Marcelo já estava mais que arrependido de ter convidado esse mala do Roberto. O único ponto positivo era essa gostosa da mulher dele. Que além de ser uma gata ainda fazia o meio de campo da cerveja. Não ia demorar muito para ele começar a exibir o seu centroavante de oficio, “O especialista”, e sua mulher, a gostosa colorada que busca cerveja e conhece a escalação do time.

   Mais um ataque colorado... Mas esse a zaga afasta sem problemas. O colorado desgraçado transborda otimismo:



   - Cabe mais!!! Vamos calar a Coligay dentro de casa!!!



   Marcelo só pensava:



   - Moranguinho imundo! Vâmo meu Tricolor, não me faz passar vergonha dentro de casa.



   Boa bola no ataque do Grêmio. Belo lançamento na direita, bola cruzada a zaga tenta afastar, ela volta para a entrada da grande área para o centroavante gremista que de costa para o gol ao invés de fazer a parede e escorar para alguém que vinha de traz, prefere se atirar e tentar cavar a falta. O juiz marca falta por simulação e amarela o ator de quinta. A torcida vai a loucura, Marcelo soca com raiva a almofada. Reclama do juiz mas por dentro a raiva é do centroavante burro que a vida lhe reservou. E o desgraçado, nem para reclamar com o juiz, exercer pressão. Não, ele era passivo. Ficava com aquele sorrisinho cínico no canto da boca, se arrastando em campo.

   Marcelo seguia reclamando pênalti mesmo contra as imagens do replay. Sentia-se sozinho acuado, dentro de sua própria casa. Sua esposa estava em outra dimensão também. Parecia o seu centroavante. Se os dois trocassem de lugar ele nem perceberia. Ambos estavam acomodados em suas funções. Achando que já estavam com a vida garantida. A esposa, fazia o trivial no relacionamento e o centroavante o feijão com arroz mal feito dentro das quatro linhas. Ambos jogavam para a torcida. Ela já não tinha um bom desempenho mas era ótima no relacionamento com a família dele. O centroavante era fraco diante da zaga adversária e um Guerreiro Imortal diante das câmeras. De ambos era difícil se livrar.

   Nessas alturas ele já nem olhava tanto para a mulher do Roberto/colorado desgraçado.

   O jogo se acomodou ali pelo meio de campo, um time na espreita de um contra-ataque e o outro sem poder ofensivo. Fim do primeiro tempo. Banheiro, cerveja e umas olhadas discretas para a vizinha. Foi na cozinha junto com ela para buscarem cervejas para todos. Ele já estava um pouco mais desinibido e disparou:



   - O Roberto é um cara de sorte. Tem uma mulher linda e que gosta de futebol. Não sei se eu tenho mais inveja dele pela sua beleza ou pelo teu fanatismo pelo Inter.

   - Obrigado pelo elogio. Você também é um homem bastante interessante. Pena que é gremista.

  

   Seu peito inflou de coragem, as borboletas revoaram como uma avalanche da Geral, ele emendou de sem-pulo como o centroavante matador:

  

   -Quem sabe a gente não faz um Grenal qualquer dia desses?



(Silêncio)


   Marcelo:


   - Desculpe se faltei com o respeito, não resisti.


   Gostosa:


   - Não, que é isso? Fica tranquilo. Quem sabe, né? Grenal é sempre bom de jogar.


   Ficaram se olhando por alguns segundos, um em cada canto da cozinha. O coração de Marcelo batia no compasso do bumbo da Geral. Ele com um sorriso no olho, ela com uma meia mordida de lábio no canto da boca.

   Roberto sai do banheiro e chama a mulher para a sala. Ela vai e Marcelo fica observando o leve caminhar dela sobre aquelas sandálias de salto alto. Suas panturrilhas fortes e seu bumbum empinado. Também sai da cozinha e vê o casal trocando carinhos no sofá. Enquanto se beijam ela olha para o Marcelo e também sorri com os olhos. A mulher de Marcelo continua por ali, viajando, pintando as unhas e de vez em quando dando um sorriso para agradar e uma olhada para o tempo de jogo.

   Antes de iniciar o segundo tempo, Marcelo precisava de algo mais forte outra vez. Mais um Whiskyzinho duplo sem gelo tomado de um gole. E sua mulher da sinal de vida:



   - Deixa de ser idiota, Marcelo. Parece criança querendo se exibir. Me diz, pra que tomar o Whisky desse jeito?



   Marcelo olha para ela com cara de quem vai pedir substituição. Ela entende o recado.

    
   Entrevista com o centroavante gremista antes de a bola voltar a rolar:

     
   Repórter:


   - E ai, o que a torcida pode esperar do Grêmio para esse segundo tempo?

   
   Centroavante óbvio:


   - O professor conversou com a gente lá dentro, e é isso ai. Já sabemos onde estamos pecando e vamos tentar mudar esse resultado. O time tá jogando bem e é só manter o empenho. A torcida vai apoiar e a gente vai virar.

    
   Repórter:


   E do camisa 9 o que a torcida tricolor pode esperar?

    
   Centroavante óbvio, marqueteiro e sem noção:


    - Pode esperar um camisa 9 metendo a cara na bola, jogando com todo empenho. Hoje o Guerreiro vai rir por último.



   Muito sem noção. 

   Mas ainda podia piorar para o Marcelo. A mulher dele parecia ter saído do estado de coma para realmente piorar o seu domingo de Grenal:



   - Adoro esse jogador do Grêmio. Eu acho ele o melhor. Além de ser lindo. Essa carinha de sem vergonha com esse cavanhaque de cafajeste motorista de van de alguma favela no Rio de Janeiro. Hummmmmm. Ele é goleiro, né?



   Marcelo não resistiu, era demais para ele:



   - Talvez no gol ele até pudesse jogar mais do que rende no ataque. Ele é atacante e joga tanta bola quanto tu entende de futebol.

   - Ui, ficou brabinho? Posso não entender de futebol, mas de homem bonito eu entendo.



   Gargalhada generalizada. Só Marcelo não ria. Mais um duplo e uma ceva aberta, rola a bola. O jogo continua tenso e sem maiores chances de gol, vai assim até os treze minutos. Falta para o Grêmio rente a linha lateral. Ótima bola cruzada, no bate e rebate na marca do pênalti a bola sobra e com um carrinho todo desengonçado o camisa 9 do Tricolor empurra para as redes. Enquanto ele corre para a avalanche da Geral o narrador esbraveja que havia sido um gol de centroavante, de um cara com faro de gol e posicionamento. Um gol de quem já havia avisado que ia fazer a diferença, blábláblá. E a mulher do Marcelo:



   - Te falei que ele era bom. Acho que não sou eu quem não entende de futebol aqui (gargalhada). 



   Mas agora já não importava o que a louca do esmalte estava dizendo, era a hora de inverter a pressão. No Olímpico, a torcida inflamada apoia como louca. Na sala da casa do Marcelo o otimismo agora estava com o gremista solitário. Cada bola recuperada ele gritava e cerrava os dentes:

    
   - VAI DAR!!! VAI DAR!!!



   Mas aos vinte e cinco minutos, o centroavante gremista tenta cavar um pênalti e leva o segundo cartão amarelo seguido de um vermelho. Expulso pelo conjunto da obra.

   O treinador vai à loucura, a torcida também e o Marcelo olha para a vizinha. O treinador irritado chama o outro centroavante e faz uma substituição ousada, tira um volante e mantêm um homem de referência na grande área.

   O Grêmio ia manter a determinação e buscar a vitória mesmo com um homem a menos. Dava para ganhar. O time não se abateu, estava tentando se reestruturar, mas as chances criadas eram sempre mal aproveitadas. A torcida apoiando e os jogadores correndo, fazendo o que tinham que fazer, mas a certeza de sair com a vitória era pouco compartilhada entra a Geral e a Social. Enquanto uma pulava e cantava a outra começava a ficar impaciente. Daria para ganhar, o Grêmio com um a menos tentava fazer jus a alcunha de Imortal, tinha maior volume de jogo, mais chances, mais determinação. Mas só ímpeto as vezes não basta e quem tem especialista tem tudo.

   Escanteio bem cobrado na marca do pênalti e o centroavante colorado sobe mais que todos e com muito fundamento cabeceia no ângulo, sem chances de defesa nem para o bom goleiro, nem para o zagueiro que estava em cima da linha no mesmo canto onde a bola entrou. Comemoração vermelha, festa do casal de visitantes. Marcelo já esperava por isso, mas não podia aguentar a frustração.

   Toca o telefone, a mulher de Marcelo corre para atender. Ele escuta a mulher chamar:


   - Amoooor...

   - Ah, diz para ligar depois. Tô assistindo ao jogo – responde sem tirar os olhos do jogo.

   - Não precisa vir, é só o meu pai te mandando “Saudações Coloradas”. Hehehe



Mais gargalhadas na sala.

  

   Marcelo balança a cabeça de forma negativa e tenta se concentrar. É muita pressão “jogar” sozinho.

   Trinta e sete minutos. Bola lançada em velocidade para o centroavante substituto que entra na grande área dribla o último zagueiro com estilo, olha para o goleiro e manda um chute firme. Firme e forte. Mas sem direção. A bola vai parar no tocador de pratos da Geral.

   Os últimos dez minutos passam como o último cortejo fúnebre. Os minutos esvaindo-se e o resultado final todos já previam não sofreria alteração alguma. Fim de papo. Vitória colorada nesse Grenal. Uma sequência interminável de cornetas estava por começar. Final de domingo já é um saco, final de domingo com derrota em Grenal compromete até o Fantástico.

   Mais uma ceva para se despedirem e Roberto antes de sair provoca:


   - Fica tranquilo, de repente no próximo Grenal tu dá mais sorte e arranja alguém para vestir essa camisa 9. Hehehe. Mas por enquanto quem tem centroavante é o Internacional. Vamos embora mulher. Quero escutar a Rádio Gaúcha e acompanhar os comentários. Coisa boa ganhar Grenal, ainda mais na casa do adversário! Boa noite, co-irmão.



   Marcelo ferve por dentro. Ele odiava esse arzinho superior do Roberto. Esse tonzinho na voz dele era como um convite: "Me dá um soco, eu sou um escroto, eu mereço, sou campeão de tudo". 

Deu tchau e desejou um forçado boa noite.



   Foi para o banho, jantou e caminhou para o quarto praticamente em silencio. Enquanto sua mulher ficava no MSN ou no Facebook ele foi deitar, tentar relaxar e assistir ao Fantástico na cama e quem sabe dormir antes dos gols. Não conseguiu. Não parava de pensar no centroavante, na vizinha colorada e naquela mordida de lábio na cozinha. Fantasiou. Criou um milhão de planos para satisfazer o seu desejo. Mas não sentia-se motivado o suficiente para esse adultério. Depois do Domingo Maior, enfim conseguiu dormir.



   Oito horas da manhã e Marcelo chega ao escritório. Lá já estavam todos os colorados reunidos para começarem a agitar a sua segunda-feira infernal pós Grenal. As piadinhas começaram cedo e o estoque era interminável. Roberto era o mais animado de todos. Fazia questão de contar para todo mundo que havia assistido ao jogo na casa do Marcelo e que tinha tido um gosto especial ver a torcida do Grêmio calada no Olímpico e o Marcelo calado na própria sala. Chamava Marcelo de ótimo anfitrião. Todos tirando o maior sarro e Marcelo de cabeça inchada. Não aguentou. Seu orgulho gremista ferido agora era um bom motivo para revidar como podia ou gostaria.

   Depois do almoço Marcelo não voltou para o escritório. Disse que tinha um compromisso com uns fornecedores. Dirigiu em alta velocidade para casa. Estacionou de qualquer forma e entrou. Chamou pela esposa...nada. Como ele imaginava ela não estava. Segunda a tarde era dia de Pilates. Não esperou muito pegou sua mochila do futebol e saiu porta afora. Atravessou o quintal, saltou sobre os arbustos que dividiam seu quintal e o do vizinho colorado, caminhou até a porta e tocou a campainha. Não demorou muito a vizinha gostosa abriu a porta:



   - Oi, Marcelo. Tudo bem? Tá precisando de alguma coisa? Não foi trabalhar hoje?

   - Tá tudo bem, eu fui sim, trabalhei um pouco e vim para casa. Você está sozinha?


   Ela sorriu e respondeu:


   - Sim, quer entrar?



   Marcelo também sorriu, entrou e fechou a porta. Ela ficou em pé na frente dele com cara de expectativa. Marcelo foi caminhando devagar em direção a vizinha/colorada/gostosa. Não fez cerimônia e beijou com desejo e sofreguidão. Arrastou ela para o quarto do casal sem perder o tempo nem de tirar a mochila das costas. Ela empurrou ele sentado na cama e disse:

    
   - Eu sabia que isso ia acontecer, mais cedo ou mais tarde. Eu fantasiei isso.

    
   Ele respondeu:

    
   - Eu também sabia e passei a noite pensando em você e em tudo que eu gostaria de fazer contigo na cama. Também fantasiei bastante.

   
    Ela:

   
    - É? Jura? Então vamos fazer o seguinte, me pede tudo que você quiser. Quero ver tudo o que você fantasiou.

   
    Ele levantou, beijou sua boca com força, apertou a nuca dela com a mão esquerda e com a direita começou a tirar a mochila. Mandou ela deitar na cama. Ela foi, devagarzinho como uma leoa charmosa, de quatro sutilmente deslizando em direção a cabeceira da cama. Chegou na cabeceira, virou e olhou com malicia para Marcelo. Marcelo olhava e sentia uma alegria muito maior que a culpa. Esse era o seu contra ataque.

    
   Ela ronronou:

    
   -Pronto, eu estou aqui. O que você quer que eu faça agora?

   
   Marcelo sorriu, colocou a mão dentro da mochila e jogou uma camisa 9 do Grêmio para ela:

    
   -Veste para mim – ele ordenou olhando fixo nos olhos da vizinha.

    
   Ela sorriu e vestiu a 9 autografada por Jardel. Essa mulher era de fato um reforço para lotar o Aeroporto Salgado Filho em dia de apresentação.

    
   Tarde maravilhosa.

  

   No outro dia, Marcelo chega às oito horas no escritório com uma cara de contente. Os colegas não resistem e perguntam onde foi parar aquele mau-humor do dia anterior. Nada parece irritá-lo, nenhuma corneta, nada. Nem quando apelam para a participação do Tricolor na segunda divisão aquele sorriso descabido sai da cara dele. Os caras perguntam o que houve, não entendem.


Ele responde com cara de artilheiro:

  

   - Nada como um Grenal após o outro.

  

   Os colegas continuaram sem entender e eu, ainda não sei até hoje quem de fato venceu aquele Grenal. Mais um Grenal que não acabou no apito final do juiz. E que como todo super-clássico, sempre tem um terceiro tempo também bastante movimentado. Eu prefiro concluir que aquele jogo acabou em empate. Me parece a analise mais justa.



Isaque Santos

segunda-feira, 19 de setembro de 2011

A disputa


A disputa

   Gurizada agitada na tarde de sábado. Correm para um lado, correm para o outro.
   Dia de festinha!
   Aniversário do Orelha. Graaaande Orelha, o amigo divertido da galera. Essa festa, com certeza, tinha tudo para “bombar”. Para o Orelha era a satisfação de ver sua festa lotada, confirmara a sua popularidade. Para a gurizada parceira do Orelha era a chance de tentar dar uns beijinhos naquela paquera da escola ou do bairro.
   Para esses “eventos”, o planejamento começava em torno de uma semana antes da festa. Iniciava pela lista de convidados, passava pela eleição do responsável por gravar as fitas K7 que seriam usadas pelo DJ, pela prospecção das lonas que serviam para armar uma tenda legal e por último, aí sim, pensavam em que estratégia usar para convencer os pais a deixarem fazer uma festa em casa.
   Passada a fase de planejamento, era a hora de colocar em prática. A gurizada mais chegada aparecia cedo na casa do dono da festa. Era hora de arrumar o pátio, dar uma gabaritada no local do evento. Um verdadeiro mutirão se formava para preparar tudo nos mínimos detalhes. Geralmente as atenções giravam em torno da mesa de som, que era composta por dois aparelhos de som 3 em 1, com o máximo de caixas de som que a galera conseguisse arranjar. A seleção musical era feita de acordo com os interesses dos mais chegados. Todos tinham sua fita K7 com o seu playlist ou algum LP afú. A iluminação era um ponto importante na organização das festas, mas também era bem simples de resolver. Uma luz negra ou algumas lâmpadas incandescentes pintadas com têmpera já eram suficientes. Nas festas da nossa galera, invariavelmente havia uma tenda feita de lona preta ou amarela. Na verdade a tenda era a primeira coisa que ficava pronta. O resto se organizava baseado no resultado da montagem dessa cobertura. Depois dos últimos acertos a gurizada corre para casa. Hora de tomar um banhão, colocar a roupa planejada e poupada a semana inteira para essa noite, dar aquela caprichada no cabelo e roubar umas gotas de perfume do irmão mais velho ou do pai.
   Até esse momento todos são iguais.
   Mas chegando à festa, as personalidades começavam o seu baile característico. Meninos e meninas na sua grande maioria com a mesma idade disputando suas primeiras batalhas por espaço nesse mundo competitivo do convívio social. Todos os tipos de futuros adultos sendo moldados em um ambiente de aparências e desejos conflitantes.
   Uma festa dessas é rica em histórias. Para cada metro quadrado há um universo em expansão.
   Mas hoje vou focar em apenas um menino, em uma única história. Vou lhes contar a história do Régis, ou Tatu como a gurizada o chamava. O apelido de Tatu quem deu para o Régis foi seu tio, Reginaldo. Ele dizia que o menino era arisco como um tatuzinho desde pequeno. Corria para se esconder de tão tímido que era.
   Tinha problemas para relacionar-se com as pessoas. Com os amigos de sempre era mais fácil. Mas novas amizades eram raras. "Trovar" alguma guria então, nem pensar.
   Mas para essa ocasião ele já havia se garantido. Combinou com uma menina da escola para eles ficarem na festa. Para falar a verdade, foi ela quem combinou com ele. Mas não importava. O que importava é que ele não ia ficar sozinho. Já havia alardeado para os amigos que nessa festa ele ia “chegar” em alguma das gurias. Acabar com a fama de bichinho do mato que tinha entre as meninas e de cagão entre os meninos.
   Dessa vez não tinha muito o que pensar. Seria natural, a guria estaria lá e eles ficariam como quem cumpre um contrato. Sem a necessidade de se expor ao risco de ouvir um “não" impiedoso de alguma pré-adolescente cruel. Naquela época, treze anos era uma idade muito mais difícil de viver. Tudo tinha que ser bem alinhavado. Não havia facilidade de comunicação. A gente ia para as festas torcendo que tudo desse certo, que a guriazinha pretendida, com combinação ou não, realmente aparecesse. Um "plano B" era complicado de arquitetar. Tu tinha que ter uma carta na manga, mas uma carta moderada. Não podia deixar nenhuma das duas perceber qual delas era o prêmio de consolação. Mas esse não era o caso do Tatu. Se para ele alinhavar um encontro com uma já era um desafio. Um plano B era utopia. Tudo tinha que correr bem.
   Enquanto banhava-se, Tatu lamentava ter dito que não saia dessa festa sem “pegar” alguém. Mas o orgulho do tímido também é perigoso. Todos amigos fazendo mil planos, ele tinha que participar do assunto. Ele tinha que fazer o seu alarde. Sentia-se seguro para "gargantear".

   Enxaguando o creme rinse do cabelo ele deve ter pensado:

   - Calma Tatuzinho. Ta tudo arrumado. É só correr para o abraço.

   Saiu voando do banho, desodorante cheiroso, roupinha bacana, optou pela camisa de botão de um time de basquete americano, calça jeans branca e freedom fog preto. Uma beliscada na janta da coroa, escovar os dentes, muito gel no cabelo, sentar no sofá e esperar a gurizada passar chamando para ir pra festa. Gostavam de chegar em bando. Era bonito de ver toda a galera junta.

   Não demorou muito para Tatu escutar a gurizada chamando. Correu para o espelho deu mais uma arrumadinha no cabelo e voou para a rua. Já no portão começo a apalpar os bolsos. Voltou correndo para dentro de casa. Saiu 10 segundos depois com uma embalagem de Halls sabor Uva Verde. Halls era fundamental.
   Caminharam até a casa do Orelha fazendo algazarra, tirando sarro uns com os outros, mas entraram na festa de maneira comportada, estudando o ambiente, descobrindo quem já estava presente.
   Sem dúvidas os olhos mais ansiosos pertenciam a Tatu. Olhos que se movimentavam rápido a procura da guria. Onde estaria?Será vinha? Resolveu dar uma desfilada. Ela não estava.
   Enquanto isso os guris ficavam ao redor do “DJ”. Era um ótimo lugar para esconder o garrafão de vinho e ir coordenando a hora de soltar as “lentas” e quais seriam essas músicas lentas.
   Os meninos fazendo “passinhos” na frente das caixas de som, exibindo-se para as gurias que por sua vez faziam cara de “nem te ligo” e mexiam no cabelo. Todo mundo sabe que elas ligavam, que elas apreciavam meninos que dançavam. Elas queriam se mostrar pra eles também. Mas nem todas tinham coragem de se soltar. O jogo nos anos noventa era assim. Era mais nas entrelinhas. Um jogo de cena dirigido pelos hormônios, medos e curiosidades incontroláveis. Mas era também a última infância romântica que se teria noticia. Não sei explicar, era diferente.
   A festa começando a se desenvolver e os guris tomando vinho escondido. Tatu não podia controlar o nervosismo. A guria estava demorando. Os copos de vinho iam esvaziando e nada dela chegar.
   Tatu estava ficando tenso. Os amigos já começavam a se adiantar e ele de mãos amarradas. Ia para frente da casa espiar para um lado e para o outro constantemente. Em uma dessa idas até o portão viu que se aproximavam umas meninas que sempre estavam com ela. Esperou elas começarem a entrar e perguntou para a última da fila:

   - Oi, Daniela, a Viviane não vem?

   A resposta foi o balde de água fria que ele tanto temia:

   - Não. A mãe dela não liberou a Vivi porque ela não quis trazer o irmão dela junto. Tchau, deixa eu entrar.

   Tatu ficou parado, atônito. Virou e por alguns instantes olhou para todos na festa. Desespero.

   - E agora? – pensou enquanto a sobrancelha esquerda sofria pequenos tremores.

   Caminhou até uma cadeira próxima ao garrafão de vinho. Serviu mais um copinho de plástico descartável. Dançar não era o seu forte. Festas não eram o seu forte!
   Nandinho, que era o “DJ” da noite, chamou o Orelha para conversar. Tatu escutou Nandinho perguntando se ainda faltava muita gente pra chegar e se poderia soltar o É o tchan para dar uma animada. Orelha disse que já podia colocar o É o tchan. Estava na hora dessas gurias se soltarem. O É o tchan tinha um poder estranho. Era colocar e até as freiras tinham vontade de botar a mão no joelho, dar uma agachadinha, mexer gostoso balançando a bundinha.
   Tatu observava as gurias dançarem, pensava o quanto ele parecia invisível aos olhos femininos. Mas eis que no meio daquele monte bundas pré-adolescentes rebolando ele percebeu um olhar. Um olhar dirigido à ele. Deu uma conferida ao redor para ver se a guria não estava olhando para ninguém mais atrás. Não havia ninguém e ela não era vesga. Aquele olhar era sim para ele. Sentiu que crescia na briga outra vez. Sim ele estava de volta ao jogo.
   Do outro lado da festa quem olhava para Tatu era a Robertinha. Ela não era o que os guris chamavam de linda, mas estava valendo. E era, talvez, a sua última chance na noite. Ia encarar.
   Estava disposto a vencer o seu medo. Ele sentia uma coragem inédita. Uma auto-confiança jamais experimentada. Tomou mais um copo de coragem, colocou um Halls na boca e foi... meio cambaleando, meio sendo empurrado pelas bundas bailantes... mas foi. Foi direto até a Robertinha e perguntou:

   - Posso falar contigo ali do outro lado?

   A música estava muito alta e ela perguntou:

   - Quêêê?

   Isso tirou uns trinta por cento da coragem do Tatu. Repetir a pergunta não estava nos seus planos. Na verdade nada daquilo estava nos seus planos. Mas já que estava ali, não poderia desistir. Mudou de atitude:

   - Vem comigo! – gritou enquanto puxava a magricela pela mão.

   Foram para o lado da casa, onde havia uma área de serviço com uma estante de matérias de limpeza e um canto escuro, tranquilo. Tatu foi carregando ela para aquele canto e pensando:

   - E agora, o que eu falo para ela? Que vergonha. Estão todos me olhando. E se ela me disser não? E se ela ficar brava? E se ela me bater?! Ai meu Deus!

   Mas foi mais fácil do que ele pensava. Mal chegaram ao cantinho reservado e a guria já estava agarrada no pescoço dele e se aproximando com a boca aberta. Pronto. Fechou os olhos e aproveitou o momento. Que maravilha. Seu primeiro beijo em festa.

   Um dos amigos se aproximou e viu os dois abraçadinhos. Voltou correndo para a galera espalhou a noticia. Todos iam dar uma espiada e isso enchia o Tatu de orgulho. Estava gostando dessa sensação. Sentia-se poderoso, bonito, grande.

   Mas a noite não iria ser assim tão simples para ele. No meio de um dos tantos beijos que trocava com a Robertinha sentiu alguém se aproximando. Parou de beijar com o susto. Tinha medo de algum adulto aparecer. Quem se aproximava era um colega de escola chamado Alex.

   Tatu perguntou:

   - Qualé, Alex?

   Alex respondeu:

  - Nada não Tatu, só me dá licença que eu quero falar em particular com a Robertinha – pegou a guria pela mão e levou para o outro lado, longe dos olhos de Tatu.

   Tatu ficou parado, escorado na parede, no escuro. Ficou esperando a sua ficante por alguns minutos até que outro amigo passou por ali e debochou dele:

   - Bah, Tatu! Perdesse a guria pro Alex!

   Tatu ficou um pouco confuso:

   - Que papo é esse, Pelotas? – na verdade o nome dele era Paulo, mas a galera chamava ele pelo nome de sua cidade natal.

   - Ué, tu não visse os dois ficando?

   - Não.
  
   - Vem cá, eu te mostro, boca aberta.

   Caminharam um pouco e lá estava a Robertinha, agarrada no pescoço do Alex. O guri olhou para ele com cara de vencedor. Isso incomodou bastante ao Tatu, mas não era a sua namorada, e além do mais, já havia conseguido o que queria. Voltou tranquilo para a mesa do DJ e sentou triunfante.
   Mas algo não estava bem. Aqueles não eram os olhares que ele esperava. Os amigos não estavam fazendo festa para ele. Não demorou muito começaram a cobrar:

   - Tu não vai fazer nada? 
   - Vai lá e dá o troco! 
   - O cara roubou a tua mina, Tatu!

   Tatu não conseguia ficar irritado com isso. Mas os argumentos da galera eram fortes:

   - Porra, Tatu! O cara nem te respeitou, foi lá e tomou a mina de assalto.

   Ele não estava dando a mínima para essa guria. Mas o orgulho era mais forte. Não poderia aceitar tamanho desaforo. Pediu mais um copo de ousadia e partiu em direção ao casal. Ia para acabar com isso, ele tomaria a "sua garota" de volta. Enquanto caminhava na sua cabeça tocava a introdução do tema de Pulp Fiction, Tempos de violência. Caminhou com passos rápidos e quase decididos. Cutucou o ombro do Alex e disparou:

   - Com licença – pegou a Robertinha pela mão e voltou para o seu canto escuro atrás da estante de produtos de limpeza. Alex não teve reação. E o Tatu foi tão firme que nem a Robertinha teve como resistir. Na verdade ela chegou a dar um sorrisinho para o Alex.

   Tatu desfilou triunfante diante de sua galera. Ele havia vencido o duelo. Ela enfim havia escolhido quem era melhor. E o melhor era ele! Beijava a Robertinha com ainda mais vontade. Aquela menina feia e sem graça já não era prêmio de consolação. Ela era o troféu de sua batalha. Batalha contra o Alex e, principalmente, contra a sua timidez.
   Beijava e comemorava. Beijava e adquiria mais carinho pela sua ficante. Valeu a pena essa disputa.
   Mas de repente ele percebeu mais uma vez a galera se movimentando de maneira estranha. E logo se formou um pelotão indo em sua direção. Na frente desse pelotão vinha Alex. Ele vinha com cara de batedor de pênalti. Tatu não podia acreditar, ele queria a revanche. Acompanhou todo o deslocamento de seu rival e em segundo plano a horda de curiosos de olho nos acontecimentos. Tatu agarrou firme a cintura da Robertinha, que por sua vez, agarrada em seu pescoço, olhou dentro dos olhos dele, deu um sorrisinho e uma piscadela. Alex chegou e mais uma vez pediu licença. Tatu estava confiante que ela diria não. Olhou para ela com cara de ponto de interrogação. Dois segundos passaram até que ele sentiu ela soltando o seu pescoço lentamente. O olhar de vencedor que o Tatu ostentava agora se teletransportou para a cara do Alex. Robertinha foi se soltando dele enquanto olhava dentro de seus olhos. Tatu não esperava essa. Sentiu vontade de implorar para que ela ficasse com ele. Queria amarrar ela pela cintura. Mas não teve forças para segura-la. A Robertinha fugiu mais uma vez. Estava aproveitando esse momento de “objeto de desejo” que estava vivendo.
   Tatu não pode aguentar o golpe. Ficou triste, mas por outro lado, não iria ficar a noite toda nesse leilão absurdo por essa guria feia. Largou de mão. Voltou para a galera e deu um tempo por ali. Ninguém foi lá colocar pilha nele. Todos perceberam que a guria estava de palhaçada e que passaria a noite assim se os meninos assim quisessem.
   Sabia que tinha feito tudo que a galera esperava dele. Não tinha decepcionado ninguém. Estava quase contente, mas sentia uma espécie estranha de falta de ar. Uma coceirinha de frustração lá no fundo. Não entendia o porque disso.
   Não demorou muito e a mãe do Tatu estava no portão perguntando por ele. Tatu se despediu dos amigos e foi embora com a mãe. Ela ia xingando ele pela rua. Estava muito irritada porque estava com cheiro de vinho e pelo adiantado da hora. Tatu  foi em silêncio o caminho todo. Chegou em casa, foi direto para o quarto, tirou o sapato e se atirou na cama.
   Naquela noite Tatu chorou copiosamente em seu travesseiro enquanto se perguntava:

   - O que eu fiz de errado? Porque ela não quis ficar só comigo?

  E entre um soluço e outro balbuciava do fundo de seu coração infantil:

  - Eu te amo, Robertinha. Eu vou te conquistar, minha princesinha linda.

   As coisas ainda eram assim nos anos noventa.

Isaque Santos

domingo, 18 de setembro de 2011

Óbito por Obsolescência


Óbito por Obsolescência

Depois de toda a violência.
O que resta é um desejo de incoerência.

Essa sujeira exposta pela transparência
Escancara toda a nossa carência.

Lutando por conveniência
Agindo com conivência.

Momentos monocromáticos de nossa convivência
Machucando nossa essência

Tudo isso e mais o medo da desistência
Em nome da burra persistência.

Os sonhos e a triste ciência,
Uma apática dose de paciência

Toda sua prepotência
Aliada com a minha impotência

E do coma acordei para a sã consciência
Fugindo de seu amor doente e dessa triste tendência.

Chorando a constante presença da ausência,
Deitava frio e pálido na cama da subsistência

Acordei e dei tchau para essa decadência.
Finalmente, meu coração implorou por clemência.

Fugi dessa lamentável existência
Desse óbito por obsolescência.

Isaque Santos

sexta-feira, 16 de setembro de 2011

Entre Anas e Marias Joanas


Entre Anas e Marias Joanas

Quem inventou o tempo?
Para que existem as horas?
As horas dão nome para cada segundo de saudade.
Dão nome enquanto os dias passam.

Entre Anas e Marias Joanas,
Vitórias e Fulanas
Eu vou lapidando.
Lapido essa pedra sabão que carrego no peito.
Lapido sentimentos, ouso moldar relacionamentos.

Enquanto os dias passam
E as horas ganham nome
Entre Anas e Marias Joanas,
santas enquanto insanas
E vou caminhando
Trilho o caminho preso sob meus pés
Caminho e tropeço nas oportunidades do meu destino.

Enquanto os dias passam
E as horas ganham nome,
Entre Anas e Marias Joanas,
Serenatas e ciganas
Meus minutos choram.
Querem ter mais um segundo.
Eu também choro e quero viver a minha época.
Vivo meus amores e minhas dores.

Enquanto reinvento meu tempo
Entre Anas e Marias Joanas,
Almas generosas enquanto tiranas
Enxugo meu rosto
E descubro no espelho todos dias um novo velho amigo.
Um companheiro de batalha.
Alguém que,inevitavelmente, sempre estará comigo.

Isaque Santos