SEJA BEM VINDO,MUITO OBRIGADO PELA SUA VISITA!

AQUI EU DEIXO MINHA MENTE VOAR,IMAGINO E RELEMBRO SITUAÇÕES,ME PERCO ENTRE O REAL E O IMAGINÁRIO.

ESPERO QUE DE ALGUMA FORMA ESSAS MALUQUICES TE AGRADEM.


quinta-feira, 18 de outubro de 2012

Cartazes da cena Os dias de Penélope (Apresentado no III Maçã - UFSC 2012



Cartaz n°1 da cena Os dias de Penélope





Cartaz n°2 da cena Os dias de Penélope

* Criação: Isaque Santos - Modelo: Aline Helena

Os dias de Penélope



Cena apresentada em 05/10 na III Maçã - Mostra Acadêmica de Artes Cênicas - UFSC
Texto: Isaque Santos
Direção: Isaque Santos e Aline Helena
Atuação: Aline Helena

O som está um pouco prejudicado no inicio,mas em segundos melhora.

Obrigado

domingo, 9 de setembro de 2012

Isaque Santos - Trabalho de videoperformance Curso Bacharel em Artes Cênicas (Professor Rodrigo)

 

Isaque Santos - Trabalho de videoperformance
Curso Bacharel em Artes Cênicas (Professor Rodrigo)

Quanto tempo? Quantos quilômetros? 

De onde vem o tapa que me ofende e a chuva que me salva?

Perdi as contas de quantas vezes chorei com as folhas secas do meu quintal.

E ainda não sei que faço com essa bagunça?

Quantos quilômetros tem que percorrer um homem até encontrar a felicidade?
Eu sei. Eu sei que depende do que é que esse homem considera felicidade.

Mas, e se a felicidade for apenas sentir-se realmente livre e independente?
Quanto tempo?
Quantos quilômetros?

Se alguém souber me responda. Mas seja rápido, por favor. Tenho pouco tempo.

Quantas voltas mais tenho que dar nesse meu mundo particular até estar feliz?

Quantas encarnações em uma única vida eu vou ter que enfrentar até me sentir leve?

O tempo corre. E o meu escapa por entre os dedos das mãos.

A vida passa. Os dias parecem mais curtos de anteontem para cá.

Eu sinto que o tempo é curto demais, preciso esquecer a prudência e voar, entende?

Preciso voar para no ar arejar a cabeça.


Relaxar.

E o tempo perdido?
E o fim da linha?
São fatos concretos. Q’Eu prefiro não pensar

Já passaram 24hs desde minha última fuga para o meu lugar seguro.

Sinto minhas pernas formigarem, as mãos suarem. Um nervoso incontrolável e insuportável.

Não sei se é essa ânsia de fazer tudo de uma só vez.
Não sei se é esse aperto ou essa liberdade que sinto no meu peito quando abandono o firmamento.

No segundo seguinte me debato, agonizo e vomito.

Vomito o desespero do sufocamento de algo vivo, forte, insistente que abrigo e não sei como expressar,
 expulsar,
expelir,
expurgar.
Aliviar o diafragma.

Existe uma inquietude na minha alma que não me deixa esquecer, que não me deixa desistir e me obriga a tentar.

Uma euforia beirando a loucura que grita e sussurra.

- Vai guri! Mas corre porque o tempo é curto. E Não pára!
Nem para chorar nem para descansar.

E eu sigo a ordem. Sigo meu caminho. Sigo minha luta.

Somente eu e minhas overdoses de ousadia.

Uma compulsão absurda que me faz dizer: EU QUERO.

Um desejo de desengasgar, falar tudo que fervilha entre um pensamento e outro.
E, quem sabe,  com sorte fazer isso sem pronunciar nenhuma palavra.

Desejo de gritar,
de chorar,
de amar,
de gozar a sorte e o azar pelas pontas dos dedos enquanto escrevo.

Na minha alma ansiosa, tempestades e furacões diários me obrigam a seguir em frente. Em busca da próxima dose de satisfação e dúvida.

Às vezes, inevitavelmente, sendo obrigado a andar em círculos. Lidando com a rotina e sonhando com a liberdade plena dos meus sentimentos.

Correr, mas correr apenas por diversão.


Isaque Santos

 

sábado, 9 de junho de 2012

Poesia Passageira



Poesia passageira

Quando a luz se fez mais branda
E do silêncio seu álibi
Nada mais fez sentido em mim

De nada adianta querer tudo
Quando a luz se abranda
E a noite se insinua breve e perfumada

Onde estive e quando a porta se fechou?
Por qual dos três pedidos serei punido primeiro?

Corri como louco para tarde chegar primeiro.
Fiz desse carrossel uma emocionante montanha russa
Sinto muito por te querer tão bem e tão breve

Momentos, eclipses, poesia no ônibus.

Isso não tem lógica?

Eu sei.
E quem disse que o que se sente é lógico. 
Isaque Santos

terça-feira, 5 de junho de 2012

O Racha


O Racha
   
   Hoje pela manhã, eu participei de um racha.
   Eu sei que é errado, podem me crucificar, eu faria o mesmo até essa manhã, mas quem aqui nunca topou um desafio, por mais insano que ele pudesse parecer? Foi inevitável, era impossível amarelar. O orgulho masculino é capaz das maiores idiotices, podem acreditar.
    Vou contar como foi que tudo aconteceu. Eram sete horas e estava frio, frio como em todas as manhãs no principio de maio. Voltando para casa depois de mais uma madrugada de trabalho, eu estava exausto. Já não era dono de meus reflexos, meu corpo estava no piloto automático. Programado para sair do trabalho e ir até minha cama com escalas mínimas. Nada me fazia sair dessa programação. Percorria esse trajeto com o cérebro, digamos assim, em stand by, quase "desligado". Pois bem, como eu ia dizendo, voltava para casa e quando saltei no ponto de ônibus foi que tudo começou. Sim, o Racha. Logo atrás de mim desceu um negro de baixa estatura, pequeno. No Rio Grande do Sul a gente chama de Negãozinho. E era um Negãozinho daqueles baixinhos e fortes, com pinta de capoeirista. Ele foi meu desafiante no primeiro racha da minha vida. Naquela manhã fria de maio, eu cansado e com o cérebro preguiçosamente reativando para fazer os últimos 1000 passos até minha cama, acabei entrando na pilha e participando de algo que eu sempre repudiei. E em tais circunstâncias formou-se a carrera. Um racha a pé. De um lado do “grid” estava eu. Com pernas longas e muita preguiça. Com tênis em condições, mas com o peso de uma madrugada cansativa sobre os ombros. Do outro lado estava ele. O Negro baixo com roupa de pedreiro. Como é uma roupa de pedreiro? Ora, eu também não sei, mas a dele tinha cimento ressecado. Só podia ser pedreiro. Nos pés ele calçava umas sandálias Havaianas, não lembro a cor, mas também não é importante. O importante é que nenhum dos dois estava disposto a ficar para trás naquela manhã. Descemos por portas diferentes do ônibus, ele na do meio e eu na do fundo. Ele saiu na frente no precário caminho da vereda por onde os pedestres caminham quando descem do ônibus aqui no meu bairro. Nessa parada não há calçada, e nem pelos próximos vinte ou trinta metros. O que existe é uma trilhazinha entre o capim baixo na beirada da avenida. Ali, nesses vinte ou trinta metros da trilha do capim, houve o primeiro contato, era o destino.
    Eu só queria chegar rápido em casa, eu juro. Mas ele estava no meu caminho e com um passo mais devagar que o meu, ele não tinha pressa. Tenho inveja de quem consegue caminhar despreocupadamente como se não houvesse nada para fazer. Mas às sete horas não existe pessoa caminhando daquele jeito. Eu não aguentei, no primeiro ponto onde o capim dava uma brecha e a trilha ficava um pouco mais larga, ultrapassei pela direita e segui caminhando no meu ritmo acelerado de quem quer a própria cama e seus cobertores. Por, talvez, dez segundos me esqueci do rapaz. Não devem ter sido mais que breves dez segundos. Logo após dobrar na esquina e entrar em uma rua mais tranquila, dei conta de uma presença ao meu lado direito, dei uma olhada de rabo de olho e era ele. O Negãozinho com roupa de pedreiro e pinta de capoeirista! Vinha como uma bala de canhão e me ultrapassou sem tomar conhecimento do meu passo apressado. Não sei por que eu resolvi revidar, acelerei o passo e busquei passar por ele para caminhar na sua frente, protegido do trânsito no acostamento. Mas e quem disse que ele “venderia” fácil a posição? Faltava combinar com o cara! Eu acelerando o passo e ele também. Não era possível tomar-lhe a frente, quando muito abrir uma pequena vantagem que não me dava permissão para tomar posição no acostamento. Só se fosse atrás dele, mas eu não entendo porque essa hipótese não passou pela minha cabeça em nenhum momento. Minha segurança já não era importante, eu queria chegar à frente dele onde quer que ele fosse naquela manhã. Eu continuava acelerando e ele também. Na manhã fria de maio o único som naquela rua era produzido pelos chinelos do Mini Usain Bolt do Norte da Ilha. Já estava ficando cômica a situação. Ele estava fazendo um esforço desgraçado para andar mais rápido que eu. Por outro lado, eu também não estava fazendo pouco esforço. O cara era veloz. A velocidade que caminhávamos, a força que estávamos fazendo, pesavam o clima naquela rua. Eu já estava no limite e faltava mais uma curva e uma pequena reta de uns trezentos passos até a próxima construção e uns quatrocentos até minha casa. Era necessário “dar um gás”, acionar o turbo. Nesse momento comecei a perceber a situação e caiu a ficha de como aquilo era surreal. Eu tentava, mas meu rosto não parava de exibir um sorrisinho teimoso no cantinho da boca e na expressão dos olhos. Se ele visse a minha fisionomia, acho que parava de caminhar e começava a correr achando que estava ao lado de algum louco. Eu não conseguia controlar a vontade de rir da situação em que se encontravam dois homens. Homem nunca cresce, nunca. Para sempre são meninos brigões e competitivos. Me desconcentrei por um momento na hora de dobrar para minha rua e ele me passou e abriu vantagem já na reta final do desafio. Caramba, como ele caminhava rápido. Eu já não tinha muito para dar. Já estava no limite entre uma caminhada rápida e a marcha atlética. E eu não queria rebolar como a galera desse esporte. Só queria chegar primeiro em qualquer lugar e ir dormir como um verdadeiro vitorioso.
    Na minha rua, ele que já tinha a vantagem da distância, ganhou mais um elemento a seu favor, o barro e as poças de água das últimas chuvas de abril. Ele por estar de bermuda e chinelo passava voando por todas, sem se importar se ia molhar ou embarrar os pés. Eu estava de tênis e calça jeans. Era obrigado a desviar, pular, parar, pensar onde pisar, o chão parecia sabão. Eu estava vendo a vitória escapar, vendo-a caminhar saltitante ao lado do Negãozinho foda.
    Eu já estava desistindo, faltava pouco, eu já tinha certeza de que ele entraria na próxima construção. No meu cérebro, que voltava a trabalhar com o giro baixo, duas ideias se revezavam para me conformar. Uma dizia:

    - Pronto acabou, você perdeu para um baixinho ligeiro, mas fez um bom papel. Vai ver ele já foi até atleta ou lateral de algum time varzeano de futebol.

    A outra dizia:

    - Não fica triste, cara. Esse racha foi coisa só da sua cabeça, ele nem se ligou no que estava acontecendo. Vai ver ele só queria chegar rápido ao trabalho. Cara, você não perdeu. Não houve disputa alguma. E essa viajada é porque você está com sono, só isso.

    Confesso que a segunda estava me convencendo, foi então que o DESGRAÇADO virou para me olhar e deu um sorrisinho triunfante. SIM, AQUILO HAVIA SIDO UM RACHA! E ele já estava, com aquele sorrisinho filho da puta, proclamando-se o vitorioso da peleja. Recebi uma dose extra de adrenalina. Eu não me entregaria nem que faltasse um metro para ele. Senti meu sangue ferver, meus músculos sendo reativados em um segundo. Cerrei os dentes e voltei para a disputa. Voltei enlouquecido, como um tanque de guerra. Não havia mais barro ou água que me importassem. Sabão em pó não lava meu orgulho, mas limpa minhas calças e calçados. Como a perfeita Fênix, eu voltei e ele viu em meus olhos a mudança no meu ânimo. Eu li nos olhos dele o pavor que sentia pelo o que eu me transformei naquele instante. Ele voltou a olhar para frente. A vitória, que corria ao lado dele, agora parecia querer esperar pelo vencedor na linha de chegada. Sentiu-se desamparado, suas pernas velozes permaneciam velozes, porém, agora trêmulas. Seus pés começaram a escorregar nas Havaianas úmidas e embarradas. Ele patinou e eu cresci na briga. A distância diminuiu e eu me liberei para sorrir. Caminhava rápido e sorria. Sorria e minha respiração de locomotiva espalhava o vapor de meus pulmões. Ele caminhava, mas agora se via em um filme de terror. Em uma das cenas em que o assassino persegue sua vitima e não importa o quanto essa corra, o bandido sempre alcança. Imagino que dever ter sido bastante assustador me ver às sete horas da manhã caminhando feito um louco em sua direção, pisando em poças d’água, chutando barro e sorrindo.
    Em alguns instantes eu já estava colado nele, foi uma reação espetacular. Nos últimos metros eu encostei ao lado dele. Seguíamos embalados e abri sutil vantagem, mais alguns passos embarrados, e ele entrou na construção.

    EU VENCI!!!

     Venci o racha a pé contra o negro mais rápido de todo o norte da ilha. Antes que ele entrasse na construção, eu dei uma olhada para ele e sorri. Ele retribuiu com um sorriso amarelo de derrotado.

    Caminhei mais alguns passos em velocidade normal e entrei em casa. Todo sujo, fui direto para o banho. Coloquei a roupa de molho e nem me importava com a sujeira em que ela se encontrava. Era a vestimenta de alguém que lutou pela vitória. Um copo de leite e já era hora da tão amada cama e dos não menos desejados cobertores amigos. Colocar a cabeça no travesseiro, relaxar os músculos e não pensar em mais nada. Meu momento off-line, como todos os dias. Só que eu não conseguia dormir, não podia desligar o cérebro. Sim é estranho, mas eu estava ansioso para conceder uma revanche ao meu oponente por ocasião.

    Será que amanhã ele trabalha? Amanhã não vou de jeans.

 



segunda-feira, 3 de outubro de 2011

O Gre-nal e os vizinhos colorados


O Grenal e os vizinhos colorados
 
(Quando acaba um Grenal? Quem ganha um Grenal?)
  
    -  Angelaaa!!! E esses petiscos, já estão prontos?

   -  Que pressa é essa, Marcelo? Não grita que eu não funciono sob pressão! Estão quase prontos falta só abrir o pote das azeitonas. Dá pra ti vir aqui ou eu vou ter que esperar o Roberto chegar pra pedir para ele?

   -  Tô indo.


   Marcelo se deslocou do quintal para a cozinha observando tudo. Passou pela sala deu uma arrumada nas almofadas,conferiu se toda a aparelhagem de áudio e vídeo estava "ok" e se todos os controles remotos estavam a mão. Na cozinha foi direto até a geladeira e conferiu a temperatura da cerveja. Tudo certo,só faltava abrir o vidro de azeitonas.

   Abriu o vidro de azeitonas e correu para o quarto.

   Hora de colocar a camisa e a cueca da sorte. Gre-nal sempre deixava o Marcelo pilhado. E esse era rodeado de expectativas e superstições. Era o primeiro Grenal em sua nova casa. Havia sido transferido há pouco tempo para essa cidade. A empresa onde trabalhava transferiu sua sede para a capital e todos os funcionários se viram obrigados a seguir junto. Cada um deles foi alojado em uma cômoda casa de condomínio fechado na zona sul de Porto Alegre. Uma vila só de “colaboradores” colegas.

   Para esse Gre-nal, Marcelo convidou um colega de escritório, Roberto. Fazia pouco que havia sido contratado e por uma dessas conspirações do destino acabou se instalando na casa ao lado da de Marcelo. Não demorou muito a surgir uma certa simpatia entre eles. Faziam jantares um na casa do outro e aproveitavam para conversar sobre futebol e negócios até altas horas. Para Marcelo, Roberto era um cara quase legal, pena que era muito convencido e colorado. Dois defeitos imperdoáveis para Marcelo. Para compensar, pelo menos ele também gostava de uma cervejinha e a mulher dele era espetacular. Daquelas mulheres que valorizam o imóvel só por frequentar ele. Marcelo apreciava ver ela ziguezagueando entre os móveis da casa. Babava pelo rebolado quase vulgar daquela mulher. E hoje era dia de desfile na sua casa. Será que conseguiria prestar atenção no jogo? Em outros jogos ele conseguia administrar bem a divisão da atenção entre a tela da televisão e os passos graciosos dela. Mas esse era Grenal!!! Não poderia dividir atenções mesmo que, há tempos, ela habitasse o seu imaginário de macho fantasioso. Ela já havia dado brechas para ele. Frases ensopadas de duplo sentido e carregadas de segundas intenções largadas em momentos estratégicos em circunstância propicias.

   Marcelo era pura adrenalina. Uma tarde de Grenal mais essa gostosa perturbadora perambulando para lá e para cá na sua sala. Precisava de um Whisky, duplo, sem gelo. Serviu e bebeu de forma afobada.

   Não demorou muito o casal estava lá. Roberto trazendo um fardinho de loiras geladas em uma mão e sua morena quente na outra. Ele vestia uma camisa do Escurinho e ela uma baby look do D’Alessandro.

   Marcelo apertou a mão de Roberto e disse para ele ficar a vontade. Enquanto Roberto levava a cerveja para a geladeira, Marcelo esperava a esposa dele parar de brincar com o cachorro e entrar. Fazia questão de recebê-la, cumprimentá-la, cheirá-la. Ela parou de brincar com o cachorro olhou para Marcelo, sorriu e entrou.


   - Oi Marcelo, tudo bem?

   - Tudo. Nossa Vanessa, como você está bonita! Pena essa camisa vermelha.

   - Jura? Mas se o problema for a camisa, eu tiro se tu pedir com jeitinho.

  

   Ui! Essa deixou até o narrador sem graça. Ele não teve resposta para dar. Apenas corou e sorriu.



   Jogo prestes a começar. Hinos do Brasil e do Rio Grande do Sul.

   Marcelo olha para a sua mulher e ela está sentada no sofá lixando as unhas e alheia a importância do jogo. Enquanto isso a mulher do Roberto cantava o Hino Rio-Grandense a plenos pulmões e ficava dando incentivos para os atletas do Internacional que passavam pela tela.

   A partida começa. Estava difícil de concentrar-se. O jogo era tenso, mas ele queria era olhar aquela mulher. Se contentava apenas em olhar. Olhar para ela já era sentir prazer.

   Dez minutos de jogo e o primeiro balde de água fria. Os dois times estavam parelhos, do goleiro ao segundo atacante. Mas havia um diferencial. O Colorado tinha centroavante. E ele não perdoou. Bola lançada na área e sem maiores problemas ele emendou um sem-pulo no contrapé do goleiro. Lindo gol e a arquibancada visitante em festa.

   Casal Colorado feliz na casa Tricolor. Ele vibrando no sofá com o copo de Polar na mão. Ela soltando gritinhos de feliz no caminho até a cozinha enquanto buscava mais uma ceva pra galera. Marcelo já estava mais que arrependido de ter convidado esse mala do Roberto. O único ponto positivo era essa gostosa da mulher dele. Que além de ser uma gata ainda fazia o meio de campo da cerveja. Não ia demorar muito para ele começar a exibir o seu centroavante de oficio, “O especialista”, e sua mulher, a gostosa colorada que busca cerveja e conhece a escalação do time.

   Mais um ataque colorado... Mas esse a zaga afasta sem problemas. O colorado desgraçado transborda otimismo:



   - Cabe mais!!! Vamos calar a Coligay dentro de casa!!!



   Marcelo só pensava:



   - Moranguinho imundo! Vâmo meu Tricolor, não me faz passar vergonha dentro de casa.



   Boa bola no ataque do Grêmio. Belo lançamento na direita, bola cruzada a zaga tenta afastar, ela volta para a entrada da grande área para o centroavante gremista que de costa para o gol ao invés de fazer a parede e escorar para alguém que vinha de traz, prefere se atirar e tentar cavar a falta. O juiz marca falta por simulação e amarela o ator de quinta. A torcida vai a loucura, Marcelo soca com raiva a almofada. Reclama do juiz mas por dentro a raiva é do centroavante burro que a vida lhe reservou. E o desgraçado, nem para reclamar com o juiz, exercer pressão. Não, ele era passivo. Ficava com aquele sorrisinho cínico no canto da boca, se arrastando em campo.

   Marcelo seguia reclamando pênalti mesmo contra as imagens do replay. Sentia-se sozinho acuado, dentro de sua própria casa. Sua esposa estava em outra dimensão também. Parecia o seu centroavante. Se os dois trocassem de lugar ele nem perceberia. Ambos estavam acomodados em suas funções. Achando que já estavam com a vida garantida. A esposa, fazia o trivial no relacionamento e o centroavante o feijão com arroz mal feito dentro das quatro linhas. Ambos jogavam para a torcida. Ela já não tinha um bom desempenho mas era ótima no relacionamento com a família dele. O centroavante era fraco diante da zaga adversária e um Guerreiro Imortal diante das câmeras. De ambos era difícil se livrar.

   Nessas alturas ele já nem olhava tanto para a mulher do Roberto/colorado desgraçado.

   O jogo se acomodou ali pelo meio de campo, um time na espreita de um contra-ataque e o outro sem poder ofensivo. Fim do primeiro tempo. Banheiro, cerveja e umas olhadas discretas para a vizinha. Foi na cozinha junto com ela para buscarem cervejas para todos. Ele já estava um pouco mais desinibido e disparou:



   - O Roberto é um cara de sorte. Tem uma mulher linda e que gosta de futebol. Não sei se eu tenho mais inveja dele pela sua beleza ou pelo teu fanatismo pelo Inter.

   - Obrigado pelo elogio. Você também é um homem bastante interessante. Pena que é gremista.

  

   Seu peito inflou de coragem, as borboletas revoaram como uma avalanche da Geral, ele emendou de sem-pulo como o centroavante matador:

  

   -Quem sabe a gente não faz um Grenal qualquer dia desses?



(Silêncio)


   Marcelo:


   - Desculpe se faltei com o respeito, não resisti.


   Gostosa:


   - Não, que é isso? Fica tranquilo. Quem sabe, né? Grenal é sempre bom de jogar.


   Ficaram se olhando por alguns segundos, um em cada canto da cozinha. O coração de Marcelo batia no compasso do bumbo da Geral. Ele com um sorriso no olho, ela com uma meia mordida de lábio no canto da boca.

   Roberto sai do banheiro e chama a mulher para a sala. Ela vai e Marcelo fica observando o leve caminhar dela sobre aquelas sandálias de salto alto. Suas panturrilhas fortes e seu bumbum empinado. Também sai da cozinha e vê o casal trocando carinhos no sofá. Enquanto se beijam ela olha para o Marcelo e também sorri com os olhos. A mulher de Marcelo continua por ali, viajando, pintando as unhas e de vez em quando dando um sorriso para agradar e uma olhada para o tempo de jogo.

   Antes de iniciar o segundo tempo, Marcelo precisava de algo mais forte outra vez. Mais um Whiskyzinho duplo sem gelo tomado de um gole. E sua mulher da sinal de vida:



   - Deixa de ser idiota, Marcelo. Parece criança querendo se exibir. Me diz, pra que tomar o Whisky desse jeito?



   Marcelo olha para ela com cara de quem vai pedir substituição. Ela entende o recado.

    
   Entrevista com o centroavante gremista antes de a bola voltar a rolar:

     
   Repórter:


   - E ai, o que a torcida pode esperar do Grêmio para esse segundo tempo?

   
   Centroavante óbvio:


   - O professor conversou com a gente lá dentro, e é isso ai. Já sabemos onde estamos pecando e vamos tentar mudar esse resultado. O time tá jogando bem e é só manter o empenho. A torcida vai apoiar e a gente vai virar.

    
   Repórter:


   E do camisa 9 o que a torcida tricolor pode esperar?

    
   Centroavante óbvio, marqueteiro e sem noção:


    - Pode esperar um camisa 9 metendo a cara na bola, jogando com todo empenho. Hoje o Guerreiro vai rir por último.



   Muito sem noção. 

   Mas ainda podia piorar para o Marcelo. A mulher dele parecia ter saído do estado de coma para realmente piorar o seu domingo de Grenal:



   - Adoro esse jogador do Grêmio. Eu acho ele o melhor. Além de ser lindo. Essa carinha de sem vergonha com esse cavanhaque de cafajeste motorista de van de alguma favela no Rio de Janeiro. Hummmmmm. Ele é goleiro, né?



   Marcelo não resistiu, era demais para ele:



   - Talvez no gol ele até pudesse jogar mais do que rende no ataque. Ele é atacante e joga tanta bola quanto tu entende de futebol.

   - Ui, ficou brabinho? Posso não entender de futebol, mas de homem bonito eu entendo.



   Gargalhada generalizada. Só Marcelo não ria. Mais um duplo e uma ceva aberta, rola a bola. O jogo continua tenso e sem maiores chances de gol, vai assim até os treze minutos. Falta para o Grêmio rente a linha lateral. Ótima bola cruzada, no bate e rebate na marca do pênalti a bola sobra e com um carrinho todo desengonçado o camisa 9 do Tricolor empurra para as redes. Enquanto ele corre para a avalanche da Geral o narrador esbraveja que havia sido um gol de centroavante, de um cara com faro de gol e posicionamento. Um gol de quem já havia avisado que ia fazer a diferença, blábláblá. E a mulher do Marcelo:



   - Te falei que ele era bom. Acho que não sou eu quem não entende de futebol aqui (gargalhada). 



   Mas agora já não importava o que a louca do esmalte estava dizendo, era a hora de inverter a pressão. No Olímpico, a torcida inflamada apoia como louca. Na sala da casa do Marcelo o otimismo agora estava com o gremista solitário. Cada bola recuperada ele gritava e cerrava os dentes:

    
   - VAI DAR!!! VAI DAR!!!



   Mas aos vinte e cinco minutos, o centroavante gremista tenta cavar um pênalti e leva o segundo cartão amarelo seguido de um vermelho. Expulso pelo conjunto da obra.

   O treinador vai à loucura, a torcida também e o Marcelo olha para a vizinha. O treinador irritado chama o outro centroavante e faz uma substituição ousada, tira um volante e mantêm um homem de referência na grande área.

   O Grêmio ia manter a determinação e buscar a vitória mesmo com um homem a menos. Dava para ganhar. O time não se abateu, estava tentando se reestruturar, mas as chances criadas eram sempre mal aproveitadas. A torcida apoiando e os jogadores correndo, fazendo o que tinham que fazer, mas a certeza de sair com a vitória era pouco compartilhada entra a Geral e a Social. Enquanto uma pulava e cantava a outra começava a ficar impaciente. Daria para ganhar, o Grêmio com um a menos tentava fazer jus a alcunha de Imortal, tinha maior volume de jogo, mais chances, mais determinação. Mas só ímpeto as vezes não basta e quem tem especialista tem tudo.

   Escanteio bem cobrado na marca do pênalti e o centroavante colorado sobe mais que todos e com muito fundamento cabeceia no ângulo, sem chances de defesa nem para o bom goleiro, nem para o zagueiro que estava em cima da linha no mesmo canto onde a bola entrou. Comemoração vermelha, festa do casal de visitantes. Marcelo já esperava por isso, mas não podia aguentar a frustração.

   Toca o telefone, a mulher de Marcelo corre para atender. Ele escuta a mulher chamar:


   - Amoooor...

   - Ah, diz para ligar depois. Tô assistindo ao jogo – responde sem tirar os olhos do jogo.

   - Não precisa vir, é só o meu pai te mandando “Saudações Coloradas”. Hehehe



Mais gargalhadas na sala.

  

   Marcelo balança a cabeça de forma negativa e tenta se concentrar. É muita pressão “jogar” sozinho.

   Trinta e sete minutos. Bola lançada em velocidade para o centroavante substituto que entra na grande área dribla o último zagueiro com estilo, olha para o goleiro e manda um chute firme. Firme e forte. Mas sem direção. A bola vai parar no tocador de pratos da Geral.

   Os últimos dez minutos passam como o último cortejo fúnebre. Os minutos esvaindo-se e o resultado final todos já previam não sofreria alteração alguma. Fim de papo. Vitória colorada nesse Grenal. Uma sequência interminável de cornetas estava por começar. Final de domingo já é um saco, final de domingo com derrota em Grenal compromete até o Fantástico.

   Mais uma ceva para se despedirem e Roberto antes de sair provoca:


   - Fica tranquilo, de repente no próximo Grenal tu dá mais sorte e arranja alguém para vestir essa camisa 9. Hehehe. Mas por enquanto quem tem centroavante é o Internacional. Vamos embora mulher. Quero escutar a Rádio Gaúcha e acompanhar os comentários. Coisa boa ganhar Grenal, ainda mais na casa do adversário! Boa noite, co-irmão.



   Marcelo ferve por dentro. Ele odiava esse arzinho superior do Roberto. Esse tonzinho na voz dele era como um convite: "Me dá um soco, eu sou um escroto, eu mereço, sou campeão de tudo". 

Deu tchau e desejou um forçado boa noite.



   Foi para o banho, jantou e caminhou para o quarto praticamente em silencio. Enquanto sua mulher ficava no MSN ou no Facebook ele foi deitar, tentar relaxar e assistir ao Fantástico na cama e quem sabe dormir antes dos gols. Não conseguiu. Não parava de pensar no centroavante, na vizinha colorada e naquela mordida de lábio na cozinha. Fantasiou. Criou um milhão de planos para satisfazer o seu desejo. Mas não sentia-se motivado o suficiente para esse adultério. Depois do Domingo Maior, enfim conseguiu dormir.



   Oito horas da manhã e Marcelo chega ao escritório. Lá já estavam todos os colorados reunidos para começarem a agitar a sua segunda-feira infernal pós Grenal. As piadinhas começaram cedo e o estoque era interminável. Roberto era o mais animado de todos. Fazia questão de contar para todo mundo que havia assistido ao jogo na casa do Marcelo e que tinha tido um gosto especial ver a torcida do Grêmio calada no Olímpico e o Marcelo calado na própria sala. Chamava Marcelo de ótimo anfitrião. Todos tirando o maior sarro e Marcelo de cabeça inchada. Não aguentou. Seu orgulho gremista ferido agora era um bom motivo para revidar como podia ou gostaria.

   Depois do almoço Marcelo não voltou para o escritório. Disse que tinha um compromisso com uns fornecedores. Dirigiu em alta velocidade para casa. Estacionou de qualquer forma e entrou. Chamou pela esposa...nada. Como ele imaginava ela não estava. Segunda a tarde era dia de Pilates. Não esperou muito pegou sua mochila do futebol e saiu porta afora. Atravessou o quintal, saltou sobre os arbustos que dividiam seu quintal e o do vizinho colorado, caminhou até a porta e tocou a campainha. Não demorou muito a vizinha gostosa abriu a porta:



   - Oi, Marcelo. Tudo bem? Tá precisando de alguma coisa? Não foi trabalhar hoje?

   - Tá tudo bem, eu fui sim, trabalhei um pouco e vim para casa. Você está sozinha?


   Ela sorriu e respondeu:


   - Sim, quer entrar?



   Marcelo também sorriu, entrou e fechou a porta. Ela ficou em pé na frente dele com cara de expectativa. Marcelo foi caminhando devagar em direção a vizinha/colorada/gostosa. Não fez cerimônia e beijou com desejo e sofreguidão. Arrastou ela para o quarto do casal sem perder o tempo nem de tirar a mochila das costas. Ela empurrou ele sentado na cama e disse:

    
   - Eu sabia que isso ia acontecer, mais cedo ou mais tarde. Eu fantasiei isso.

    
   Ele respondeu:

    
   - Eu também sabia e passei a noite pensando em você e em tudo que eu gostaria de fazer contigo na cama. Também fantasiei bastante.

   
    Ela:

   
    - É? Jura? Então vamos fazer o seguinte, me pede tudo que você quiser. Quero ver tudo o que você fantasiou.

   
    Ele levantou, beijou sua boca com força, apertou a nuca dela com a mão esquerda e com a direita começou a tirar a mochila. Mandou ela deitar na cama. Ela foi, devagarzinho como uma leoa charmosa, de quatro sutilmente deslizando em direção a cabeceira da cama. Chegou na cabeceira, virou e olhou com malicia para Marcelo. Marcelo olhava e sentia uma alegria muito maior que a culpa. Esse era o seu contra ataque.

    
   Ela ronronou:

    
   -Pronto, eu estou aqui. O que você quer que eu faça agora?

   
   Marcelo sorriu, colocou a mão dentro da mochila e jogou uma camisa 9 do Grêmio para ela:

    
   -Veste para mim – ele ordenou olhando fixo nos olhos da vizinha.

    
   Ela sorriu e vestiu a 9 autografada por Jardel. Essa mulher era de fato um reforço para lotar o Aeroporto Salgado Filho em dia de apresentação.

    
   Tarde maravilhosa.

  

   No outro dia, Marcelo chega às oito horas no escritório com uma cara de contente. Os colegas não resistem e perguntam onde foi parar aquele mau-humor do dia anterior. Nada parece irritá-lo, nenhuma corneta, nada. Nem quando apelam para a participação do Tricolor na segunda divisão aquele sorriso descabido sai da cara dele. Os caras perguntam o que houve, não entendem.


Ele responde com cara de artilheiro:

  

   - Nada como um Grenal após o outro.

  

   Os colegas continuaram sem entender e eu, ainda não sei até hoje quem de fato venceu aquele Grenal. Mais um Grenal que não acabou no apito final do juiz. E que como todo super-clássico, sempre tem um terceiro tempo também bastante movimentado. Eu prefiro concluir que aquele jogo acabou em empate. Me parece a analise mais justa.



Isaque Santos