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AQUI EU DEIXO MINHA MENTE VOAR,IMAGINO E RELEMBRO SITUAÇÕES,ME PERCO ENTRE O REAL E O IMAGINÁRIO.

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quarta-feira, 10 de agosto de 2011

PRIMEIRO AMOR


Primeiro amor

    Rogério era um cara bacana. Desses sem muitos amigos,mas bacana.No escritório era amigo de todo mundo.Sempre presente em todas rodinhas de conversa,mas de maneira um pouco reservada.Não se entregava facilmente.Já no trabalho era diferente.Entrega total.O mais motivado e engajado dos funcionários da empresa de consultoria financeira na qual trabalhava.
    Em casa, bem,em casa era um marido dedicado e apaixonado.Mas se perguntassem para sua mulher qual era a sua avaliação do desempenho do maridão em casa ela daria um 7,5 pelos bons tempos.Treze anos de casamento e uma dúvida:Amor ou Acomodação?
    Como pai, apesar do pouco tempo dedicado,poderia se dizer que era um nota 9.Sempre carinhoso e paciente para ensinar.Enfim,um cidadão comum,anônimo no meio da multidão.

    Um dia, como de costume, chegou no escritório quinze minutos antes do horário,abriu seu Notebook e foi dar uma olhada nos recados da madrugada.São sempre os mais sinceros ou absurdamente estranhos.Uma aba para o Orkut,outra para o Facebook e outra para o e-mail.Olhou no relógio,7:50h.Deu uma olhadinha pela janela,o dia estava amanhecendo bastante quente e ensolarado.Olhou para tela clicou no Facebook.E eis que lá estava.Surpreendentemente estava lá!Uma foto e um nome conhecidos em uma “solicitação de amizade” ,bem diante dos seus olhos.A foto por si só,já era inconfundível.Quinze anos depois,cabelos tingidos com cor de cobre e um ar de mulher,tentavam disfarçar.Mas o sorriso e as sardas na bochecha perto dos olhos eram inesquecíveis.Diria,até mesmo,únicos.
    Seu olhar apenas correu para a direita como que para confirmar o que a memória lhe trazia até a beirada dos olhos,quase palpável.E ali estava o nome Karine.O sobrenome não importava.Eram aqueles cheios de consoantes,ruins de pronunciar e lembrar.
    Quinze anos depois, ela estava ali.Sorrindo na tela do seu notebook.Sorrindo com aquele sorriso e solicitando a sua amizade.
    Correu a seta do mouse até o botão “aceitar”. Parou...não clicou.
    Fez um breve balanço da sua história com Karine. E foi mais ou menos assim:

    Ele dezessete anos, terceiro ano do segundo grau,ensino médio agora.
    Ela dezesseis anos segundo ano.
    Já se conheciam dos corredores da escola e das ruas do bairro. Mas foi durante a festa de boas vindas aos alunos,desse mesmo ano,que eles “ficaram” pela primeira vez.
    Ali começava um romance adolescente cheio de conflitos e hormônios.
    Ele um garotão voluntarioso, esportista.Fazia sucesso com as outras menininhas da escola.
    Ela, muito doce,meiga,quase inocente.

    Esse era o típico namoro com prazo de validade curtíssimo. Mas os adolescentes se atiram de cabeça,sempre.E isso é muito bom.Rende histórias.

    Mas voltando ao flashback...

    Ela, romântica,queria flores e ursos de pelúcia.
    Ele cheio de hormônios, queria sexo.Queria perder a tão constrangedora virgindade,que lhe excluía de algumas conversas por falta de conhecimento de causa.E era urgente.
    Isso virou um problema, ela não queria,não iria fazer isso só para mantê-lo preso.
    E o relacionamento acabou sete meses depois de começar.
    Rogério resolveu, em uma festa fechada só para amigos,por fim ao seu problema.Além de outras meninas também estava presente Paola.Seria com ela a sua primeira vez.Ela era considerada "experiente" aos dezenove anos.E tinha a fama de "tira cabaço" da gurizada do bairro.Feia para andar de mãos dadas ou carregar na bicicleta,mas linda para bagunçar os lençóis.
    Mas como todo caçador, ela também fazia questão de mostrar sua caça abatida,ou “cabaço tirado’’. Espalhou pelos quatro cantos do bairro que havia desvirginado o Rogerinho da Karine.
    Foi demais para a frágil e delicada Karine. E o namoro acabou de maneira constrangedora.

    Fim do flashback.

    Mas agora, isso já não importava.Quinze anos depois,ela já perdoou e a prova disso estava naquela solicitação de amizade.À um clique de matar a curiosidade.

    Clicou.

    Pensou em alguma mensagem para deixar. algo criativo,original,encantador.
    Não achou.
    Atacou com o básico:

    - Oi!!! (assim cheio de exclamações para demonstrar empolgação com o encontro)
    - Quanto tempo, né ? (para tentar entender se ela já esqueceu a mágoa)
    - Como vai a vida? (para saber os detalhes em uma pergunta só: Tá casada? Noiva? Namorando? Tem filhos?)

    - Manda noticias,abraço (preferiu abraço na primeira mensagem)   

    Enter.

    Agora era só esperar e ver o que aconteceria.

    O dia que estava por começar em cinco minutos prometia ser mais um dia comum.Além das reuniões importantes com clientes importantes,que lhe tomaria apenas a parte da manhã dessa sexta-feira ensolarada,ele tinha apenas que ir ao shopping durante a tarde comprar um presente para a mulher que estava de aniversário.Uma sexta comum dentro de uma semana comum.
    Embora muitas vezes fossem enfadonhas, Rogério gostava dessas reuniões.Eram ótimas para prospectar novos clientes e negócios mais lucrativos.Mas naquele dia ficou difícil manter a concentração.Seus olhos não paravam de correr em busca do note fechado sobre a sua mesa.
     Perguntas piscavam na sua cabeça:
    -Será que ela já respondeu?
    -Como será que ela está?
    -Será que entra seguido na internet?
    -Será que casou?
    -Onde trabalha?
    -Trabalha?
    -Morar, ainda mora aqui na mesma cidade.Pelo menos é o que diz no perfil dela.

     Só tinha duas certezas:
    -Ela ainda tem aquele sorriso lindo e quer ser minha amiga!

    Antes do meio-dia as reuniões acabaram. O último cliente endinheirado saiu pela porta e Rogério correu para o computador.
    Abriu o Facebook  e lá em cima, no cantinho esquerdo,havia a sinalização de recebimento de uma mensagem.Deslizou a seta na velocidade da luz.

    Clicou.

    Mas a única coisa que estava escrito era um endereço de e-mail para o MSN e algo como ‘me add’.
    Ele add ela.

    Ela estava on-line!

    E agora?Como começar uma conversa?Quinze anos!!!
    Nem precisou pensar muito.
    Ela chegou com um surpreendente:

    Oi!!! (cheio de coraçõezinhos e piscando mais que neon de motel)

    A conversa correu tranquila,cheia de nostalgia e risadas.
    Até que Karine foi além:

    - Quero matar a saudade do teu beijo. (assim no seco)

    Ele tremeu.
    Não sabia se o tremor era só nele ou se o prédio todo tremia.
    A resposta foi em cinco letras:

    - EU TBM (assim em caps lock)

    Próxima cena...

    Rogério busca Karine em seu trabalho. Uma clinica para pessoas com problemas psicológicos próxima ao centro da cidade.O plano era almoçarem juntos e depois ele se concentrava só no presente da esposa.

    Ao entrar no carro um longo abraço e um demorado encontro de olhos.

    - Nossa, você está linda.
    - Tem alguma sugestão de lugar para almoçarmos?

    A resposta veio com uma pergunta desconcertante:

    - Que tal em um motel?

    E uma afirmação:

    - Conheço um ótimo aqui pertinho.

    O que dizer em uma hora dessas?

    - Não, veja bem,vamos com calma - nenhum homem jamais proferiu tal frase em dada situação.Não seria agora.

    O certo é que não se pode ser cem por cento correto cem por cento do tempo.
    Um dia a casa cai.
    E caiu.

    Lá estava ele. Ele e ela.Quinze anos depois.Na porta de um motel uma hora depois de ter começado a teclar com ela.
    Menos de cinco minutos depois, já estavam se beijando loucamente em pé no meio da suíte.Arrancando roupas como se tivessem em chamas.Ela joga ele nu na cama.Não completamente nu porque as meias ele não tirou.Depois fica parada por um instante.Sorri.
    Sorri aquele mesmo sorriso da adolescência, só que com uma dose reveladora de malicia.
    Ele Observa.

    E dentro da cabeça dele, martela como um mantra a frase:

    - Quinze anos...quinze anos...quinze anos...

    Ela estava linda, um pouco branca demais,mas linda.Trinta e um aninhos.Entre a empolgação dos vinte e poucos e a maestria dos quarenta.Um vulcão explodindo bem diante dos seus olhos.
  Tanto tempo depois ela estava ali, nua e linda.E ele se sentia perdoado.

    Em meio aos seus delírios entre a adolescência e aquele dia ele escutou mais uma frase dessas que mexem com a libido. E veio com aquela voz de freirinha jovem:

    - Adoro esse motel. Ele sempre tem esses brinquedinhos eróticos.

    Isso o deixava mais excitado. Estava curioso e sua mente voava.
    Nem percebeu em que momento ela começou a amarar seu pulsos à cama. E seguiu amarrando e dando beijos visivelmente cheios de prazer.
    Quando se deu conta que estava amarrado a  justificativa foi:

    - Calma Rô. Essa é minha “vingancinha”.

    E sorriu daquele jeito.

    Homem que é homem não manda desamarrar. Todos relaxam.Alguns,mais receosos, apenas avisam que existem alguns orifícios por onde as coisas somente saem,nunca entram.Mas todos relaxam,essa é a regra.

    E apenas um pouco mais de uma hora separava, o Rogério que começava uma conversa no MSN com a primeira namorada e esse Rogério pelado na cama de um motel, totalmente amarrado e com uma mulher que ele havia traído há quinze anos.

    De súbito isso pareceu não ter sido uma boa ideia. E o que parecia se confirmou.
Karine se virou com uma seringa na mão, buscou dentro de sua bolsa uma ampola com um liquido rosa transparente.
    Ele gritou.
    Mas não adiantou, estavam em um motel,muitos casais gritam em um motel.Ainda mais nesses cheios de "brinquedinhos".
    Ela caminhou na direção dele, mas dessa vez com um olhar estranho.Olhos nos olhos.Deslizou seu corpo nu sobre o corpo nu dele e beijou-lhe o queixo com paixão virando o rosto dele para a esquerda.Aplicou todo o liquido  da seringa no braço esquerdo dele enquanto ronronava em seu ouvido direito:

    - Fica tranquilo, eu só quero que você me escute.Isso é só para deixar seu corpo anestesiado.Sua mente vai ficar lúcida até eu terminar de falar.Depois...depois eu não sei o que vai acontecer com o seu estado de consciência.

    E começou a falar:

    - Você sabe o que eu passei na escola depois que você me traiu, hein seu safadinho?

    Rogério tentou falar, mas a droga começava a fazer efeito rapidamente.Só conseguiu   balbuciar:

    - Éramos crianças.

    Ela sorriu outra vez e disse com voz terna:

    - Não faça esforços desnecessários. Você a partir de agora é apenas olhos e ouvidos.Deixa que eu falo,bebê.

    E continuou:

    - Sim éramos crianças, mas isso não significa que eu não tivesse a capacidade de sofrer.Se podia amar,podia sofrer.E sofri.
    Sofri muito. Meu amor próprio foi parar na lama.Sofria por ter te perdido.Sofria com as piadas massacrantes durante todo o terceiro ano.Sofria porque você preferiu perder a virgindade com aquela coisa feia ao invés de me esperar.Dei meu amor para um insensível que acabou arrasando comigo.
    Em três meses estava viciada em antidepressivos que comprava no centro no mercado negro.
    Menos de dois anos depois, tentei suicídio pela primeira vez.Você estava estudando em Porto Alegre nessa época.Infelizmente meus pais chegaram a tempo e me salvaram.
    Fiquei sete anos internada nessa clinica que é onde vivo e trabalho como ajudante. Os médicos atestaram loucura e me aposentaram.
    Eu sei que não sou louca. Eu só não quero mais sofrer.Isso não é o que todos querem?Ser feliz sem dor.
    E eu sei quem é o causador de todos esses problemas que atingiram a mim e a minha família.
    Foi você Rogério!
    Você e seus malditos hormônios!
    E olha aonde a sua libido te trouxe. Você veio parar em um motel,todo amarrado,anestesiado e com uma mulher que tem um atestado de loucura e vê em você o causador de todo o mal que ela passou na vida.
    Você também não sabe que eu sofri abusos nessa mesma clinica durante os três primeiros anos de internação. Me aplicavam a mesma merda que apliquei em você.Isso faz enlouquecer.O abuso,o medo,o silêncio.
    Mas ai eu te encontrei.
    E agora estamos aqui. Eu falando e você me ouvindo.

    Nessa hora lágrimas de remorso escorriam pela face de Rogério.
    Ela virou calmamente, abriu a bolsa e pegou uma faca de carne.

    Agora as lágrimas eram de pavor. Só conseguia pensar nos filhos e na esposa.
    Karine lentamente se acomodou sentada sobre a região da virilha de Rogério, com as pernas abertas e os olhos fixos nos olhos dele.
    Olhou mais de perto, fez um carinho com a ponta da faca no rosto dele.Os olhos de Rogério pareciam querer pular para fora de tão esbugalhados que estavam.
    Ela deu um beijo em sua boca dormente, olhou pela janela o sol das quatorze horas.E não havia mais nada lá fora que lhe esperasse.

    Olhou para ele deu mais um belo sorriso e de um golpe só cortou o próprio pulso esquerdo.
    Largou a faca ao lado da coxa esquerda de Rogério. Deitou suavemente no peito dele e sangrou até morrer.

    Era o fim dessa história.
    Era o fim de um casamento nota 7,5.
    Era o fim de uma reputação.
    Era a vingança chegando quinze anos depois.
    Surpreendentemente.

    Isaque Santos

2 comentários:

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